Gosto da Lidia Jorge e dos seus livros.
Já estava expectante em relação ao seu próximo romance "Combateremos a Sombra", mas depois de ler a sua entrevista no suplemento "Ipsilon" do "Público", de 16 de Março, fiquei quase convencido de que se trata de uma excelente obra.
Mas o que faz transportar para a Lidia Jorge para o "Casario", são algumas das suas palavras sobre o nosso país e sobre a sina de muitos portugueses, bastante pertinentes:
«Na sociedade portuguesa, o final nunca é esclarecido. Portugal é o país da obra em aberto, nunca temos finais claros. Vem da penumbra, vai para a penumbra, nunca ninguém sabe ao certo o que aconteceu.»
«O português vê que nada acontece àquele que explora e, ao mesmo tempo, vê o explorador transformado em herói. A mensagem que se passa é a de que vale a pena explorar. O falsário não só não é punido como é promovido. Acabamos por ficar impotentes, com o sentimento de que não vale a pena. Anos e anos de esmagamento conduziram os portugueses a uma postura depressiva.»
Felizmente, nem tudo são desilusões, já que ela também falou na entrevista das nossas virtudes: «Há as pessoas anónimas, que são os pilares salubres desta sociedade. Pessoas que agem por bem, que respeitam os outros, que cumprem o dever apesar de ninguém os elogiar, que nunca terão o nome no jornal. Gente circunspecta. Com um grau de fraternidade muito grande, sem esperar nada em troca.»
Curiosamente ou talvez não, Lidia Jorge, ofereceu-nos um facto real (o que se passa com a justiça...) e dois retratos do nosso país, em perfeito contraponto: o falsário que apesar de ser desonesto e se prestar a todo o tipo de papel, além de não ser punido, ainda é promovido (todos nós conhecemos exemplos destes...) e o anónimo, que age por bem, respeita os outros e é capaz de ajudar o próximo sem estar à espera de nada em troca (cada vez conhecemos menos pessoas assim...).
10 comentários:
Lídia Jorge é uma grande e oportuna escritora.
E com isto digo tudo.
Também gosto dela!
Quero ver se não perco o seu novo romance!
Muito lúcida a sua análise sobre este povinho que somos nós!
É uma boa ideia, combatermos a sombra, Luís.
Deve ser uma boa leitura. Não me vou esquecer desta recomendação.
É sim senhor Repórter.
E dizes tudo...
Sim, Rosa, quanta lucidez...
Estamos numa fase que já nem a sombra combatemos... Estamos a ficar muito "murchos", Alice.
Também gosto MUITO da Lídia Jorge.
É uma respeitável e inspiradora VOZ feminina
Um ABRAÇO para TI Luís
da isabel do Caderno
É sim senhor, Isabel.
Percebe-se que é uma mulher livre... e como todas as pessoas sem "amarras", é sempre inspiradora...
Ja ta na lista! ;) Conheci a Lidia no meu cursinho de escrita, e fiquei fãaaaaaaaaaaaaa dela como pessoa! Uma ternura um doce! Uma Senhora! :-)
Concordo contigo, Cristina.
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