quarta-feira, abril 30, 2008

Os Sinais e as Riscas...

Ao fim da manhã assisti a uma discussão estúpida, e ao mesmo tempo, normal, pelo menos nesta Almada em constantes mudanças...
Uma senhora farta de esperar e ao ver que nenhum carro parava para a deixar passar, resolveu aproveitar uma aberta para atravessar a passadeira...
Num ápice apareceu um condutor apressado a apitar e a mandar a senhora atravessar a estrada na passadeira... a senhora respondeu-lhe à letra, perguntando-lhe se ele era céguinho, apontando para o sinal.
O homem ainda barafustou, até que percebeu que tinha feito asneira e arrancou apressado, sem abrir mais à boca, enquanto a senhora abanava a cabeça.
Eu que vinha atrás, sorri com aquele quadro.
Como condutor que sou, sei que muitas vezes esquecemos os sinais e olhamos apenas para a estrada, e como não vemos as riscas da passadeira, é sempre a andar.
Só que os sinais são soberanos.

terça-feira, abril 29, 2008

Cada Livro Tem a Sua Própria História

O livro, "25 Olhares de Abril", é apresentado hoje, em Lisboa, na livraria "Circulo das Letras".
Tem uma história simples, houve alguém que achou que era importante recolher histórias de como tinha sido o dia 25 de Abril de 1974. Estou a falar do economista, Carlos Garrido, que também adora escrever - está a preparar a edição da sua terceira obra de contos - e cordenou a edição.
Começou a pedir a amigos e conhecidos, que escrevessem uma crónica sobre este dia especial. Não fez qualquer selecção, apostou na diversidade, em pessoas de gerações, credos e gostos diferentes.
E o resultado é este livro...
Agradeço desde já ao Carlos Garrido, por me ter dado a oportunidade de contar a história do meu 25 de Abril (muito pouco recheado de aventuras, diga-se de passagem...) e aos outros 23 companheiros de aventura (Maria Luísa Baptista, Manuela Marujo, Manuel Freire, Kalidás Barreto, José Nascimento, José Carlos Fonseca, Jorge Paulos, Joaquim Alves Lavado, Ilda Januário, Gabriela Silva, Fernando Vasco, Fernando Barão, Domingos Marques, Cristovão de Aguiar, Cid Simões, Carlos Pimenta, Carlos Cardoso Luís, Artur Vaz, Ana Júlia Sança, Alice Tomé, Albino Moura, Aida Baptista, Abrantes Raposo) entre amigos, conhecidos e ilustres desconhecidos, que espero conhecer logo, ao fim da tarde...

segunda-feira, abril 28, 2008

Conversas de Café (7)


- Gostaste do discurso do Cavaco no 25 de Abril?
- Não me aqueceu nem arrefeceu. Depois do que não foi capaz de dizer na Madeira, em que foi um autêntico senhor Silva, para o Alberto João, perdeu a pouca credibilidade que tinha...
- O gajo não usa cravo na lapela mas armou-se em revolucionário. Conseguiu culpar toda a gente da ignorância dos jovens e do mau estar que se sente no país.
- Menos ele, que foi o primeiro-ministro que mais desumanizou o país e cometeu tantos erros com a educação, com não sei quantos ministros, no tempo da famosa "geração rasca".
- A sorte dele é os portugueses terem a memória curta e não se preocuparem com os verdadeiros problemas do país. Caso contrário, de certeza que não tinha sido eleito presidente da República...
- Não sei. A concorrência não foi muito forte...
- Pode ser que seja o primeiro Presidente eleito a ser corrido no primeiro mandato...
- A ver vamos, mas lá que tinha a sua graça, tinha...

sexta-feira, abril 25, 2008

O Melhor da Noite de Abril


O 25 de Abril é sempre comemorado com festa de arromba em Almada.
Há boa música, discursos e muito fogo de artíficio...
Já conhecia os The Gift. Eles são de facto um espectáculo, uma banda de nível internacional.
Foram sem sombra dúvida o melhor da noite...
O único momento próximo foi o coro anónimo colectivo habitual, que cantou, "Grandola Vila Morena", ainda com emoção, trinta e quatro anos depois da Revolução...

quinta-feira, abril 24, 2008

Conversas de Café (6)

- Lembras-te do teu 24 de Abril de 1974?
- Não... não deve ter sido muito diferente do 23... casa, trabalho, trabalho, casa...
- Não tinhas nenhum amigo que soubesse da Revolução?
- Não... acho que depois do 16 de Março, a malta não acreditava em golpes militares, pensava que estava tudo controlado pelos generais, nos quartéis. E que os revolucionários estavam todos na prisão.
- É no mínimo curioso...
- Sabíamos que o Estado estava podre, velho, caduco, mas como tinha a PIDE a segurar as pontas...
- A PIDE, sempre a PIDE...
- Era o que mais nos assustava, sabíamos do que eram capazes. Eram o garante da ditadura...
O desenho é de Alberto de Sousa.

quarta-feira, abril 23, 2008

Não Um, Mas Dez Livros Especiais...


Como é que vou conseguir explicar que não tenho apenas um livro da minha vida, mas, no mínimo, uma dezena?
Claro que, se fizer um esforço, talvez os possa reduzir para metade, mas para quê?
A minha geração, de uma forma geral, teve os primeiros contactos com a literatura na escola, através das leituras obrigatórias dos programas escolares. Eu não fugi à regra.
Destas primeiras leituras, surgiram os primeiros encantamentos, por razões várias.
Por exemplo, nunca esqueci a “Engrenagem”, de Soeiro Pereira Gomes, não tanto pela sua qualidade literária, mas sim, por me ter dado uma visão real do mundo do trabalho, da transição entre o campo e a cidade, no começo da adolescência... muito menos “O Malhadinhas”, que me apresentou o grande escritor, que é Aquilino Ribeiro, e que fez com que nunca mais virasse costas aos livros, tornando-me desde então, leitor por prazer e não por obrigação.

(continua no "Largo da Memória", neste Dia de Todos os Livros do Mundo...)

segunda-feira, abril 21, 2008

Um dos Jardins do Tejo

A Casa da Cerca, além do Museu de Arte Contemporânea de Almada, tem um óptimo miradouro virado para Lisboa e um Jardim Botânico, cuja beleza e variedade são dignos de realce...

É um dos poucos espaços agradáveis e sossegados, desta cidade em mudança, completamente absorvida pela força das máquinas e dos projectos dos homens...
Se puderem, passem por lá. Vão gostar...

sábado, abril 19, 2008

Conversas de Café (5)


- Há quanto tempo não pegas numa viola?
- não sei... há imenso tempo...
- Porquê?
- Não sei... se calhar cansei-me de tocar para o boneco...
- Não acredito nisso.
- E tu, há quanto tempo não corres?
- Há muito tempo...
- Porquê?
- Porque me desabituei...
- Comigo aconteceu o mesmo, com a viola...
- É diferente...
- Na tua cabeça, na minha não...

quinta-feira, abril 17, 2008

Saídas Quase Com Música...


- Filha, não corras dessa forma, ainda te aleijas. Deixa de ser parva.
- Pai, eu não sou parva, sou maluquinha...

quarta-feira, abril 16, 2008

Cantores de Abril

O espectáculo "Vozes de Abril", no Coliseu, foi um êxito em toda a linha.
Isto só fio possível, graças aos Cantores de Abril.
É por isso que realço aqui o livro, "Cantores de Abril", de Eduardo M. Raposo, historiador radicado no concelho de Almada, com entrevistas aos muitos trovadores do "Canto de Intervenção", título de outra obra do autor.
Palmas para ele e para todos os Cantores e Poetas de Abril, que já cantavam aqui e ali, antes de 1974, meio às escondidas (muitas vezes a brincarem ao gato e ao rato, com a gentalha da PIDE), de Norte a Sul.
A capa não podia ser mais bem escolhida, com o Zeca e o Adriano.

domingo, abril 13, 2008

Conversas de Café (4)


- Li o que escreveste ontem.
- E então?
- Até consegui imaginar o tédio de uma cidade sem crianças... vê lá por onde andei...
- Se as coisas continuarem assim, é para lá que caminharemos...
- Achas?
- Acho. As cidades estão cada vez mais desumanizadas. Fazer filhos continua a ser fácil e agradável. O problema é o resto. Educá-los e dar-lhes uma vida digna, é cada vez mais difícil...
- Sim, é muito mais fácil comprar e educar um cão...
- Não foi por acaso que me cruzei com tantas pessoas a passearem os seus bichos.
- Achas que há volta a dar?
- Há. Só não sei é se quem nos governa, está interessado em tornar o mundo mais humano...
- Pois...

O Boneco é do José de Lemos.

sábado, abril 12, 2008

As Cidades Estão Tão Diferentes...


Hoje de manhã fui a pé até Cacilhas, de mão dada com a minha filhota, que queria ver os barcos no cais...
A caminhada deu-me que pensar, pois nunca tinha pensado que as mudanças que se têm dado na sociedade, eram tão visíveis nas ruas...
No passeio de ida e volta até ao Largo de Cacilhas, não me cruzei com nenhum pai (ou mãe...) de mão dada com os filhos. Estranhamente ou não, cruzei-me com mais de uma dúzia de pessoas que passeavam os seus cãezinhos, no mesmo percurso...
O mundo está mesmo a mudar. Inclusive as famílias...

quinta-feira, abril 10, 2008

O Tejo-Mar


Nestes dias de chuva e vento, o Rio ganha alma de Mar...
Perde a sua habitual harmonia e deixa-se enrolar com o sopro do vento, ganhando ondas que fazem dançar todas as embarcações do Tejo...
É por isso que lhe chamo Tejo-Mar...

quarta-feira, abril 09, 2008

Conversas de Café (3)


- Ainda não escreveste nada nos teus blogues sobre o novo acordo ortográfico...
- Pois não...
- Por alguma razão especial?
- Não. Embora esteja dividido, concordo com algumas coisas, discordo de outras. Mas penso que se foi longe demais, pelo menos para o verdadeiro português...
- Longe demais?
- Sim, há alterações que me soam estranhas. O nosso português pode se tornar demasiado brasileiro...
- Tem graça. Mas eles não são muito mais que nós?...
- São, e depois?...

terça-feira, abril 08, 2008

Quando Combateremos a Sombra?

Estou a ler e a gostar muito do último romance de Lídia Jorge, "Combateremos a Sombra".
É uma história aparentemente simples, sobre a complexidade do mundo de hoje, através do dia a dia de um psicanalista, Osvaldo Campos.
Hoje ao escutar a notícia de que os helicópteros "Puma" (com quase quarenta anos de voo...) vão ter de voltar ao activo, porque não há peças para os substitutos, "Merlin", pensei na irresponsabilidade e incompetência de vários governantes portugueses, que a única coisa que têm feito é desperdiçar milhões e milhões de euros ao erário público. O mais grave é ninguém os colocar em causa ou investigar as suas negociatas, com seriedade...
Por isso, quando li: [...] «Segundo ela, o culpado pela meteorologia era Deus, mas os responsáveis pelos pilares de ferro e betão tinham de ser pessoas concretas. Porque não havia no país inteiro um homem ou uma mulher que dissesse, em tal data fui eu?» (p. 334) [...] Senti pena de viver neste país, onde o ministro que se demitiu devido à tragédia relatada (Ponte de Entre-os-Rios), disse após pedir a demissão, que a culpa não podia morrer solteira...
Claro que podia e pode. E vai continuar assim, porque esta gente que nos governa acha que as punições são quase exclusividade dos pobres e desgraçados...
Já tinha comprado o livro da Lídia Jorge há algum tempo, mas foi a Totoia, que fez com que o lesse. Obrigado Totoia...

segunda-feira, abril 07, 2008

Conversas de Café (2)


- Não gosto nada da palavra camarada...
- Eu gosto... assim como a de companheiro.
- Porquê?
- Sinto alguma proximidade, e até nostalgia...
- Proximidade? Bahh... Conta-me outra.
- Desde a minha recruta, na Marinha, que um dos meus instrutores me elucidou, que ali éramos todos camaradas. Colegas eram as "putas"...

O desenho, "Conversas de Café", é de Bernardo Marques.

domingo, abril 06, 2008

Janela Para o Tejo

Como gostaram de uma das fotografias com que participei na Festa das Artes da SCALA, resolvi postar uma outra, da qual também gosto muito, e que retrata o actual estado de degradação da Quinta da Arealva, rente ao nosso Tejo...
Ofereci-lhe o título, "Janela para o Tejo".
Só nós, humanos, é que somos capazes de encontrar beleza em ruínas...

quinta-feira, abril 03, 2008

Passear com o Tejo...

Estes dias com cheiro a Verão, são óptimos para passear de mão dada com o Tejo, em ambas as margens, ou então, mesmo no coração do Rio, em qualquer barca...
É por isso que recomendo o "cruzeiro" Cacilhas-Belém, no "Ferry-Boat". Ele oferece mais minutos de travessia e também uma visão mais ampla das duas margens do rio e a passagem pela parte inferior da Ponte 25 de Abril...

A fotografia que ilustra o "post" foi tirada por mim, durante um destes cruzeiros e esteve em exposição na Festa das Artes da SCALA, em Almada...

terça-feira, abril 01, 2008

Conversas de Café (1)


- Se já mentimos tanto, diariamente, porquê um dia das mentiras?
- Porque não? Não há dias para quase tudo, porque não também um dia para as saborosas mentiras?
- Isso era se fossem todas saborosas...
- Agora fizeste-me rir!