segunda-feira, dezembro 31, 2012

Que 2013 Seja Melhor do que Esperamos


Não me lembro de estarmos quase a entrar num ano novo, com as expectativas tão baixas.

Os desejos que fazemos aos amigos e conhecidos, quase que se ficam apenas pela saúde e alegria, esquecidos que podem jogar no "euromilhões".

Queremos acreditar que com saúde e alegria, é possível vencer todas as adversidades, que nos são impostas por gente, que pouco ou nada sabe de nós.

Por tudo isto, era bom que 2013 fosse um ano melhor do que esperamos...

A foto é de Dorothea Lange.

sexta-feira, dezembro 28, 2012

Histórias de Vergonha e Abandono


Os idosos continuam a ser as principais vitimas dos burlões e ladrões, especialmente na semana em que recebem as suas reformas.

A maioria nem sequer conta aos filhos o que lhes aconteceu, por vergonha...

Se as pessoas não se sentissem tão abandonadas neste país que não é para velhos, inclusive pelas próprias famílias, não dariam tanta conversa às pessoas que se fingem sempre simpáticas e agradáveis, numa primeira abordagem...

segunda-feira, dezembro 24, 2012

Feliz Natal, Natal Feliz



Natal, e Não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido ...

Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave ...

Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira

sábado, dezembro 22, 2012

A Arruada de Natal da Incrível


Fazendo jus à tradição, a Banda Filarmónica da Incrível Almadense andou esta manhã a espalhar alegria pelas ruas de Almada com a execução de belas músicas de Natal, animando um pouco mais as pessoas, com um notório semblante carregado, devido a este tempo pouco dado a alegrias, apesar da quadra festiva que se aproxima. 

E até levou consigo um Pai de Natal "Incrível", bem mais elegante que o convencional.


Além da sua passagem pelas ruas, também entrou no mercado da rua Olivenza, para gáudio dos mercadores e clientes, que aplaudiram com satisfação esta bela surpresa natalícia da Incrível.

terça-feira, dezembro 18, 2012

Não Fui, Não vou à Missa


Se tivesse alguma dúvida, em ir ou não à missa, perdia todas as que tivesse ao ouvir aquele "beato Salu", deliciado com o Natal cheio de pobres e desta caridadezinha (falo disso no "largo"...) que lhes enche o "coração". 

Provavelmente é um dos muitos que enchem o confessionário de histórias para receber o perdão desejado, pois segunda feira começa uma nova semana com novos pecados, porque deus lá estará à sua espera, no dia de conversar a sós com o padre, naquele cubiculo, onde até se pode falar da cobiça pela vizinha, mais uma vez, coisa que se resolve com dois ou três "pais nossos" ou "avé marias"...

A superioridade que saltava do seu corpo era tanta em relação a nós (talvez herejes ou pior...), que devia estar convencido que já tinha um banco no céu, aliás um sofá, que tinha muito mais a ver com ele.

Não, não fui, nem vou à missa. Nem sou do clube destes "cristãos". Sou pela solidariedade e não pela caridade.

E continuo satisfeito por não querer ser mais nem menos que ninguém...

sábado, dezembro 15, 2012

Democracia é Isto...


As Opções do Plano e Orçamento da Câmara Municipal de Almada foram chumbadas na última reunião de vereadores da Autarquia, que se realizou a 12 de Dezembro, com os votos contra de toda a oposição (PS, PSD e BE).

Parece que é um facto inédito em Almada, por várias razões. Por a CDU conseguir normalmente a maioria nas eleições e também por desta vez não terem conseguido puxar para o seu lado (abstendo-se ou votando a favor) a vereadora do Bloco de Esquerda.

Foi por essa razão que até achei estranhas as declarações de Helena Oliveira ao , "Jornal da Região", que disse: «A CDU não ouve ninguém. Tanto faz que a oposição apresente propostas ou não.» Só agora, quase em fim de mandato é que percebeu isso?

Um dos aspectos determinantes para o voto contra da oposição foi o facto do executivo almadense não ter sequer considerado a proposta da diminuição do valor do IMI, a exemplo de outras autarquias da Área Metropolitana de Lisboa, que tentam aliviar as dificuldades financeiras das famílias.

Quando uma das principais bandeiras do Município é a defesa dos valores humanos e sociais, tal como a prática da solidariedade, fica-lhe muito mal, nem sequer considerar  esta possibilidade. Ainda por cima diz com muito orgulho que é uma Autarquia sem dívidas...

Por outro lado, se há alguma coisa que eu acho que fere a democracia de morte, são os "falsos unanimismos". 

terça-feira, dezembro 11, 2012

Ainda os Filmes...


Talvez o cinema seja a arte que mais se aproxima da nossa vida, de todas as que pudemos desfrutar. Em comparação com a literatura, tem a a vantagem de nos oferecer as suas histórias em movimento e com personagens de carne e osso.

No sábado à noite, por um mero acaso, descobri que estava a ser exibido na RTP Memória, o "Dom Roberto", que tem como protagonistas, Raul Solnado e Glicinia Quartin.

Acabei por ficar preso ao ecran e vi o filme até ao fim. Embora não se tratasse de uma grande realização, tinha alma, os dois protagonistas conseguiam exprimir toda aquela vida de pobreza, de quem não tinha emprego e era forçado a viver numa casa abandonada, quase destruída. 

Apesar de toda aquela miséria, há por ali muita esperança e sonho, não fizesse Solnado o papel de um manuseador de "robertos" das ruas lisboetas. Esperança que também era alimentada pela solidariedade da vizinhança (Ainda hoje é assim, é mais fácil um pobre dar o pouco que tem, que os que têm quase tudo. Estes são bons é a praticar a caridadezinha, de preferência com uma câmara de imagens por perto...).

É um filme que tem o perfume do neo-realismo italiano, possuindo um conteúdo muito político, pelo menos para a época, em plena ditadura salazarista.

Estive a ler mais alguns pormenores do filme e fiquei a saber que foi estreado no ano em que nasci (1962) e que no ano seguinte foi seleccionado para o "Festival de Cannes", onde recebeu uma menção especial do júri do Melhor Filme para a Juventude. O seu realizador, Ernesto de Sousa, não só foi impedido de se deslocar a França pela PIDE, como acabou por ser perseguido e preso pela polícia política.

sexta-feira, dezembro 07, 2012

O Melhor dos Filmes


Os filmes têm essa coisa boa de nos fazerem pensar. E pensamos mais quando estamos na presença do inesperado, da estranheza, da diferença...

O "Passar a Ferro", de Ana Pissarra e Maria Emília Tavares, através da sua projecção dupla, não nos conseguiu transmitir apenas que o ir e o  voltar de cacilheiro, são duas viagens quase antagónicas. Foi mais longe.

No fim da projecção foi bom trocar ideias com a Ana e a Emília, assim como assistir a várias conversas cruzadas, que embora não tornassem o diálogo muito compreensível, colocaram toda aquela gente a conversar, e pior que isso, a opinar, sobre as travessias no Tejo de cacilheiro e as histórias das suas vidas.

Neste mundo de perdas e de ganhos, falámos muito mais do que perdemos do que das nossas vitórias, até por haver gente presente que já viajava de cacilheiro nos anos cinquenta...

Mesmo eu que só comecei a viajar diariamente nestas barcas na segunda metade dos anos oitenta, sinto muitas diferenças.

Perdeu-se sobretudo a familiaridade e a camaradagem tão presentes ainda nesse tempo, os amigos que não se importavam de esperar o barco seguinte, só para se sentirem bem acompanhados, trocar uns dedos de conversa, contar uma ou outra anedota, porque sorrir ao fim de um dia de trabalho, nem sempre fácil, era um bálsamo, sentindo que não se perdera tudo, que era possível agarrar alguma alegria no regresso a casa.

É nestes pequenas coisas que percebemos o quanto a nossa sociedade mudou nos dez anos de reinado de Cavaco, com a entrada na Europa dos "ricos".  Perdemos entre outras coisas a alegria dos "pobres"...

E assim se explica que nas viagens de hoje, o "passar a ferro", a rotina, a melancolia e a solidão (quebradas episodicamente por algum "louco" que gosta de espalhar alegria, sem ter medo do ridículo...) estão muito mais presentes que a espontaneidade e o calor humano dos tempos idos.

A fuga à esta quase tristeza, é encontrada na beleza do Tejo que espreita em todas as janelas, num rosto que nos prende o olhar por mais de um segundo ou na leitura de um jornal ou livro...

E como são viagens de apenas dez minutos, nem sequer têm tempo de se tornar pesadelo...

E eu só tenho de agradecer esta "viagem" à Ana e Emília.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Joaquim Benite (1943 - 2012)


Joaquim Benite deixou-nos, hoje.

Embora não fosse muito próximo, falámos diversas vezes, sempre com cordialidade, inclusive em situações inesperadas, como aconteceu uma vez à porta de um restaurante, em que ambos estávamos à espera de pessoas diferentes, apenas unidas pela falta de pontualidade.

Joaquim Benite deixa uma obra notável em Almada, no campo teatral, que espero que não seja destruída com o seu desaparecimento físico e com a "crise". O seu "Festival de Teatro" era um dos mais importantes da Europa e trazia sempre muita gente de fora a Almada, no começo do Verão.

Apesar da sua grande capacidade como encenador e director teatral, estava longe de ser uma figura consensual nos meios teatrais almadenses. Isso acontecia mais por razões materiais que por outra coisa. Como a sua Companhia absorvia uma grande fatia do orçamento da Autarquia para a Cultura, isso sempre provocou algum mau estar no sector cultural local. 

Essa foi também uma das razões que me levou a afastar um pouco do seu teatro, pois como agente cultural de uma Cidade, que gosta de se afirmar pela justiça social e pela solidariedade, tenho de confessar que nunca achei muita piada que Almada fosse pouco democrática nos apoios dados à Cultura...

Adenda: Além de ter entrevistado o Joaquim Benite para o Record, também  lhe "desenhei" um perfil no Jornal de Almada, numa rubrica que assinava e tinha como titulo, "Almada no Centro do Mundo". Fica aqui o link.

terça-feira, dezembro 04, 2012

Um Filme Sobre a Travessia do Tejo


Na próxima quinta-feira será projectado um filme-documentário de trinta minutos na "Tertúlia do Dragão", organizada pela SCALA, às 21 horas, no 1º andar do café Dragão Vermelho, no centro de Almada.

As autoras, Ana Pissarra e Maria Emília Tavares,  estarão presentes e irão falar sobre este, "Passar a Ferro", que significa na gíria dos marinheiros a rotina das viagens entre as duas margens do Tejo.