sexta-feira, maio 30, 2008

Um Lugar Comum...

Embora seja um lugar-comum, não deixa de ser verdade: nunca pensei ficar por aqui tanto tempo.
Pensava que um ano já seria uma boa passagem pela blogosfera, só que já passaram dois...
E depois deste blogue ainda tive o "descaramento" de criar mais dois...
E devo confessar que não estou farto. Como acontece com todas as coisas da vida, há dias melhores e outros assim assim, mas ainda nunca senti vontade de fechar as portadas e as janelas e fazer-me à estrada...
Podia pôr-me a falar de estatística, mas isso não vale nada, comparado com as visitas de pessoas que se tornaram especiais, com quem fui criando laços e que são o sal deste mundo virtual, pelo menos para mim.
É por isso que deixei a chave na porta, para que vão entrando e podem fazer de conta que a casa é vossa. Há bolinhos secos na mesa, queijo da serra, pão caseiro, paio, vinho da casa, branco e tinto, sirvam-se...
Também podem colher uma ou outra flor, mas não exagerem, não retirem a beleza aos canteiros...

quinta-feira, maio 29, 2008

O Pacto de Almada

Na noite de 29 de Maio de 1958, Almada foi palco de um acontecimento histórico durante o comício que Humberto Delgado realizou na Academia Almadense: a desistência da candidatura de Arlindo Vicente, apoiada pelo PCP, a favor da candidatura do “General Sem Medo”.
Apesar de a PIDE, ter feito tudo para que Arlindo Vicente, não conseguisse chegar a Almada, o candidato conseguiu furar todas as barreiras e reuniu-se nos bastidores do palco da sala da Academia, onde foram trocaram as primeiras impressões sobre o acordo. A conversa dos dois democratas perseguiu em Lisboa, na casa do general, onde ambos assinaram o pacto de união, intitulado, “Aos Portugueses”, na madrugada de 30 de Maio. Nesse mesmo dia Arlindo Vicente anunciou aos órgãos da comunicação social a sua decisão de retirar a sua candidatura, em favor de Humberto Delgado.
O encontro da noite de 29 de Maio de 1958, entre Humberto Delgado e Arlindo Vicente, na sede da Academia Almadense, durante a campanha eleitoral para a Presidência da República de 1958, foi baptizado com um sentido pejorativo, como o “Pacto de Cacilhas”, pelos órgãos de comunicação social afectos ao Salazarismo, ligando-o às populares burricadas.
O Pacto deveria ser reconhecido como "Pacto de Almada", de uma vez por todas, em nome do rigor histórico.

Nota: O Boletim Municipal, distribuído gratuitamente por praticamente todos os lares de Almada, deveria ser mais cuidadoso, quando aborda algumas temáticas históricas, como foi o caso da página dedicada ao 50 º aniversário do encontro entre Humberto Delgado e Arlindo Vicente em Almada. Embora seja um órgão de expressão comunista, cinquenta anos depois, insiste na tese salazarista, que desviou o Pacto feito no centro de Almada para Cacilhas...

quarta-feira, maio 28, 2008

A Boca do Vento e o Olho de Boi

Esta bonita aguarela - quase que parece uma fotografia - é da autoria de Raul Russiano, um excelente artista almadense que já não está entre nós.
Os nomes do título do "post" são mesmo verdadeiros. Desde sempre que estes dois lugares são conhecidos por estes topónimos populares, já com um pé no Tejo, pelos Almadenses...

terça-feira, maio 27, 2008

Banda de Cacilhas

Quando regressávamos a casa do passeio de domingo à tarde, descobrimos uma nova banda de Cacilhas, que se preparava para animar o largo onde se encontra o monumento ao Burro e às Crianças, na rua António Feio.

Sabia que os Bombeiros Voluntários de Cacilhas tinham uma Xaranga, mas não uma banda filarmónica, cheia de jovens instrumentistas, ao lado de alguns músicos da velha guarda.
Boa Surpresa...

segunda-feira, maio 26, 2008

Tarde no Ginjal

Foi bom ontem as nuvens terem decidido passar ao lado do Sol, oferecendo-nos uma tarde deliciosa à beira rio.

Passeámos ao longo do Ginjal, que estava com bastante movimento de turistas, cacilhenses e pescadores de fim de semana...

domingo, maio 25, 2008

Conversas de Café (10)

- Há tantas coisas curiosas no nosso país, que nos passam ao lado.
- Eu sei...
- Se eu há meia dúzia de anos não convivesse com holandeses e alemães, não tinha ganho a percepção de que a coisa que eles achavam mais curiosa em Portugal, era a realidade ser facilmente confundida com qualquer anedota.
- É capaz de ser verdade, mas se não fossemos assim, estávamos completamente lixados...
- Eles gozavam comigo à brava por sermos bons a fazer coisas esquisitas. Adoravam consultar o livro dos recordes e era um fartote de rir...
- E tu ficavas-te?
- Ria-me também...
- Eles deviam gostar era de fazer de nós parvos, para se sentirem importantes...
- Claro, mas não deixavam de ter razão. Somos muito inconstantes, mudamos facilmente do fado para o folclore.
- É a nossa vida. Não venhas dizer que tens vergonha de ser português...
- Às vezes tenho. E não penses que é por causa dos sem abrigo e dos desgraçados que não têm onde cair mortos.
- Eu sei, esses não contam para o campeonato...
- E não contam mesmo... estava a falar do alberto joão, do santana, do sócrates, do durão, do portas e restante matilha...
- O problema é que para eles, nós é que somos a anedota...
O óleo é de Degas, "Dentro do Café".

sábado, maio 24, 2008

Um Mestre das Imagens

Um dos fotógrafos amadores mais premiado além fronteiras, vive no concelho de Almada.

Estou a falar de Aníbal Sequeira, um verdadeiro poeta das imagens...
Tem fotografias a preto e branco que são autênticas obras de arte, como "O Ganhão", que ilustra este "post", imagem premiada em vários salões internacionais.
Curiosamente, ou talvez não, Aníbal Sequeira tem sido esquecido, ano após ano, na festa das "comendas" locais, promovidas pelo Município.
Claro que isso não passa de um "fait-divers". O que é realmente importante são as suas belas fotografias, que têm corrido mundo...

quinta-feira, maio 22, 2008

Um Texto e uma Fotografia da Expo 98

Como comprei um bilhete de três dias, foi com agrado que passeei pela Expo 98.
Fiquei de tal forma bem impressionado, que até escrevi um texto no "O Scala", dedicado, a todos aqueles que não visitaram a Exposição Mundial, que revolucionou o Oriente de Lisboa.
Dez anos depois, reconheço tanta ingenuidade, neste texto...


(clicar para aumentar...)

quarta-feira, maio 21, 2008

Conversas de Café (9)

- Irritei-me logo de manhã. Um dos meus vizinhos fechou-me a porta do prédio na cara, como se não morasse ali.

- Disseste alguma coisa?

- Não. Mas devia, chamar-lhe no mínimo besta. Mas isso era dar confiança a mais a estes animais que não sabem viver em comunidade.

- Também tenho disso no meu prédio. Todos devemos ter. É uma marca deste tempo, gente que mora ao nosso lado e baixa a cabeça quando se cruza connosco. Só que, de vez enquanto saem-lhe as contas trocadas...

- Então?

- Por exemplo, a gaja mais antipática do prédio, teve de me atender numa grande superfície comercial, e digo-te, foi de uma simpatia, que me deixou de boca aberta.

- Ganhaste uma amiga...

- O tanas. Ainda pensei que depois daquela situação, levantava os "corninhos" e passava a dizer bom dia e boa tarde. Tudo igual.

- Pelo menos é uma boa profissional...

- Achas? Ela sabe é que se não tratar os clientes como deve ser, vai "pastar couves".

terça-feira, maio 20, 2008

O Primeiro dos Últimos...

Sei que o futebol não é o tema mais atraente para uma boa parte dos visitantes do "Casario", mas não resisto a falar da novela, já com alguns episódios, protagonizada pelo Rui Costa, pelo vendedor de pneus e por muitos jornalistas-empresários...

Falo da escolha do novo treinador do Benfica. O nome que mais me deixou estupefacto, entre os muitos que surgem nos jornais, foi o de José Peseiro, que mais uma vez conseguiu a proeza de ser o primeiro dos últimos na Grécia. Há pessoas assim, estão fadadas para serem sempre segundas, para perderem a final nos últimos minutos, etc. Mas este sujeito tem ainda outro problema, mais grave: não sabe liderar uma equipa, como se viu durante a sua passagem pelo Sporting.
Irrita-me que o Peseiro seja sequer hipótese, quando existem no nosso campeonato técnicos como Manuel Cajuda, Jorge Jesus, Jaime Pacheco ou Manuel Machado, que são seguramente, melhores treinadores que ele...
A minha escolha? Seguramente Michael Laudrup (na foto com a camisola do Barcelona), talvez o mais latino dos dinamarqueses...
Escrevi isto a fazer "figas", para que Peseiro não seja sequer uma hipótese e não torne as coisas ainda mais turvas para os lados da Luz...

sábado, maio 17, 2008

Está Quase...

O monumento ao Cristo Rei foi inaugurado há quarenta e nove anos, aproximando-se a passos largos a comemoração do meio século.
Apesar de ter sido "sonhado" pelo Cardeal Cerejeira, amigo intimo de Salazar e figura eminente do Estado Novo, depois de ter estado no Rio de Janeiro, a sua concretização esteve longe de ser fácil.
Rezam as vozes populares locais, que este atraso foi motivado pelo "desfalque" protagonizado por um dos padres, com a responsabilidade da recolha de fundos, que desapareceu com o dinheiro (uma soma bastante avultada para a época), para parte incerta.
Embora não tenha conseguido encontrar registos históricos deste acontecimento (a censura protegia a igreja e os bons costumes...), é bem provável que esta tenha sido uma das causas do atraso das obras e também da passagem do bronze inicial da estátua para o cimento armado...

A aguarela que ilustra este texto é da autoria do pintor almadense, Carlos Canhão, com o Tejo, o Ginjal e o Cristo Rei...

sexta-feira, maio 16, 2008

Eu Vi!

Se me contassem com todos os pormenores, talvez duvidasse. Mas foi mesmo assim.
Em plena Praça do Areeiro, numa passadeira com o sinal aberto para os peões, uma dúzia de pessoas caminhava, quando um individuo com um mercedes, creme cor de táxi, resolveu passar o vermelho, depois de dar uma grande buzinadela. Quase por artes mágicas furou pelo meio das pessoas, que se desviaram como puderam. A única senhora que não se conseguiu desviar totalmente, levou um toque de raspão que a empurrou para o chão. Felizmente sem consequências, além dos collans rasgados e o joelho ligeiramente ferido.
O condutor, como é da praxe, pôs-se a milhas. O polícia que estava a menos de dez metros do local, começou a caminhar na direcção contrária, como se não tivesse acontecido nada...
Ligando estas personagens ao post anterior, o guarda e o condutor não estavam vestido do avesso, estavam "nus" de dignidade e civilidade...
A fotografia é de Robert Doisneau, de 1952, tem como o título, "Inferno". Colando-a ao episódio, não deixa de ter a sua lógica...

quarta-feira, maio 14, 2008

O País Cheio de Gente Vestida do Avesso...

Este título é de um conto-crónica, que escrevi e coloquei na gaveta, junto de dezenas de primos, que estão sempre a espreitar, mal ela se abre...

Vou tentar resumi-lo, sem vestir demasiado as personagens, claro...
É mais um retrato deste nosso país, cheio de gente triste, que não gosta do que faz e que, geralmente, gosta de se vingar em quem lhe aparece à frente no balcão, tornando-lhes a vida ainda um pouco mais difícil, nas filas enormes que crescem nas conservatórias, nas finanças, nos centros de saúde, nos centros de emprego, etc.
Foi por isso que o narrador ficou deliciado ao olhar a funcionária, quase invisível, que caminhava com grande leveza, quase sem tocar no chão e sem incomodar a leitura dos utentes, demasiado ocupados para repararem nela, no interior da biblioteca municipal.
O tal tipo que se arma em narrador, cada vez mais um buscador de diferenças, reparou em quase tudo: no seu cabelo apanhado, nos seus óculos, na sua roupa discreta, mas sobretudo, na maneira como ela agarrava os livros, aliás abraçava...
Era por isso, que sempre que precisava de uma informação qualquer da biblioteca, dirigia-se a ela no balcão. Sabia que a senhora era capaz de ir quase ao fim do mundo, para lhe satisfazer o pedido. E não era pelos seus lindos olhos, era apenas porque gostava de ajudar os outros...
É tão raro encontrar alguém assim, sem estar com a roupa do avesso, e com a cara ao contrário, neste país em que quase toda a gente finge ignorar o verdadeiro significado de serviço público...

O guache é de Manuel Cargaleiro, "sem título", de 1968.

terça-feira, maio 13, 2008

Conversas de Café (8)

- Achas que a beleza é fundamental?
- Fundamental para quê?
- Para quase tudo. Para se arranjar uma namorada, um emprego decente...
- Não acho que seja fundamental. Sempre encontrei mulheres bonitas com homens feios e vice-versa. Nos empregos nem se fala, é cada mamarracho...
- Então porque razão o mercado das plásticas floresce?
- Porque é moda e porque algumas pessoas não se aceitam, quando olham ao espelho.
- Já pensaste em alterar alguma coisa no teu corpo?
- Não. Nunca me senti bem com as coisas demasiado perfeitas...
- Nem mesmo com mulheres?
- Não. As mulheres demasiado belas, parece que sairam de um filme, que não fazem parte da minha realidade...
A Foto é de Robert Doisneau, que lhe chamou "Coco" e é de 1952.

domingo, maio 11, 2008

À Volta das Letras

O desafio é muito simples, escolhe-se um livro e depois convidam-se os visitantes a lerem-no e a aparecerem, um mês depois, no local escolhido, pelo excelente blogue literário, À Volta das Letras, para se que possam trocar ideias e impressões sobre a leitura...

Como li o romance, "Combateremos a Sombra", de Lidia Jorge, a sugestão feita pelos responsáveis do blogue, a Totoia, a Laranjinha e o professor Pardal, senti-me um pouco na obrigação de aparecer na cafetaria do Museu do Teatro.
Claro que também tinha alguma curiosidade em saber quem eram estes amigos dos livros.
Como não podia deixar de ser, fiquei com a melhor das impressões deste grupo de amigos e dei por muito bem empregue este bocado da manhã passado num lugar extremamente bonito da nossa Lisboa...

sexta-feira, maio 09, 2008

Meras Ilusões...

Nós muitas vezes temos a ilusão que o mundo só começou a ser mundo no século vinte...
Felizmente existe a nossa literatura, que por vezes até parece actual demais, com Camilo ou Eça... ou então algumas obras de arte que nos dizem que a vida já era uma coisa cheia no século dezanove...
Este quadro de Alfredo Keil, "Barcos no Estuário do Tejo", com a presença de barcas, de vários portes e funções no rio, é a prova do que digo.
Embora as embarcações fossem mais pequenas, não deviam faltar velas içadas pelo Tejo fora...

segunda-feira, maio 05, 2008

Coisas do Mundo...

Ao folhear um álbum de fotografias de Robert Doisneau, descobri várias preciosidades. A que achei mais estranha e curiosa, foi o "Urinol dos Halles", um dos mercados de Paris, datada de 1953.
Apesar de conhecer vários "urinóis" públicos, nunca tinha imaginado um como o da imagem...
Além da sua posição cimeira, com vista para o mercado, permite manter a conversa em dia com os utilizadores dos lugares em frente.
Quem foi que disse que o "aliviar das águas" era uma actividade solitária?

quinta-feira, maio 01, 2008

Livres e Iguais


Houve um tempo em que acreditámos, que era possível, sermos todos Livres e Iguais, em dignidade e direitos...
Parece que estávamos enganados...
E pensar, que continua ser o artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos do Homem...