quarta-feira, junho 20, 2007

Retrato de Uma Cidade que Finge Estar em Mudança


Moro há vinte anos em Cacilhas.
Não vim morar para a Margem Sul por acidente. Foi uma escolha pensada.
Além de ter gostado da possibilidade de olhar o Tejo da minha janela da sala, a proximidade de Lisboa acabou por ser decisiva nesta escolha. Ficava apenas a vinte minutos de distância, contabilizados o passeio a pé pelas ruas da freguesia e a viagem de cacilheiro...
É por isso que não aceito que a qualidade de vida na Freguesia onde moro, em vez de ter melhorado, tenha regredido (especialmente na última década).
Cada vez há mais casas em ruínas (do Ginjal nem é bom falar... por isso vou tentar esquecê-lo neste pequeno texto), mais carros em cima dos passeios, mais lixo rente aos contentores... e até as pessoas, estão mais velhas e não houve qualquer tentativa de revitalizar a população, criando condições especiais para que os jovens viessem ou continuassem a viver para Cacilhas.
A Lisnave, por exemplo, fechou há mais de seis anos e continua tudo na mesma. A única coisa que mudou, foi a diminuição de poluição sonora e atmosférica.

Não aceito que o Município só se preocupe com as obras faraónicas projectadas para a Quinta do Almaraz e para o espaço dos antigos estaleiros da Lisnave, que não passam disso mesmo, de projectos de papel, e não faça nada para mudar este retrocesso na qualidade de vida das populações do concelho.
O que me incomoda é saber que, largas centenas de milhões de contos depois, vai existir um Metro de superfície, que embora passe na avenida principal da Freguesia, não vai contribuir, em quase nada, para a melhoria da qualidade de vida dos cacilhenses.
As casas devolutas e em risco de ruir vão continuar a aumentar, tal como a desertificação humana...
Não tenho dúvidas que preferia viver numa localidade que se preocupasse mais com as pessoas e menos com todos estes projectos megalómanos.

20 comentários:

Papoila disse...

Realmente é pena que os grandes projectos neste momento em Almada sejam da iniciativa do Estado, pois a autarquia parece descurar uma coisa importante que é o património histórico, tal como se passa com Almada Velha, o Ginjal, só para falar em alguns exemplos.

É realmente triste ver que umas das principais chegadas de turistas ao concelho, esteja degradado como está. O turismo não é só Sol e Praia...

Leonor Vieira disse...

1000% de acordo!
Leo

EMALMADA disse...

Eu fico-me por 100% de acordo total qto baste.
É preciso e urgente denunciar esta "podridão de desenvolvimento municipal oficializado" que todos vemos e só os responsáveia autárquicos não querem ver.
É preciso que as oposições deixem de ser a muleta da CMA neste "desgarrado" desenvolvimento e nesta desgraça que está corroendo Almada e suas gentes.
É preciso que as oposições o sejam. Que deixem de fazer o jeito à CMA, que tanto as ofende quando quer e estas, apesar de humilhadas, continuam a ser-lhe subservientes.
É preciso em Almada que a oposição diga que é e sabe ser oposição.
A população está à espera.

Minda disse...

Também a mim me custa observar esta degradação da freguesia onde escolhi viver, tal como tu, por opção.

Pela proximidade ao Tejo, sobretudo, mas também porque sendo almadense de nascença adoro este concelho...

Por isso me dói ainda mais, ver a degradação do património edificado e a falta de limpeza nas ruas, só para citar dois dos inúmeros problemas de Cacilhas.
E revolta-me a passividade de uns, a ausência de civismo de outros e, em especial, a demagogia do poder local...

No entretanto, Cacilhas vai ruindo, não só o património construído mas, também, a sua história e as tradições populares que caiem, igualmente, sobre os escombros de interesses económicos mesquinhos mas, principalmente, por inércia dos responsáveis autárquicos que fingem um empenho que, por detrás do pano do teatro que é a política, destroiem.

Vive-se na ilusão do que há-de vir (mega projectos de gabinete a que falta, na maioria das vezes, o suporte social e, por isso, são votados ao insucesso mesmo antes de nascerem)… e esse futuro incerto serve de desculpa para que, no presente, não se actue, se deixe Cacilhas ficar cada vez mais empobrecida e abandonada eternamente à espera daquilo que, afinal, por isto e por aquilo (há sempre uma justificação qualquer) nunca chega a se concretizar.

Contudo, o medo de enfrentar os ditos poderosos leva alguns a ser subservientes e outros a preferir a companhia da indiferença. Assim, é difícil mudar o rumo deste caminho… mas enquanto há vida, há esperança!

Ida disse...

QUerido Luís, tu que és um esteio masculino nesta blogosfera, anda depressa e vê o último post que a Pitanga Doce publicou... tou fervendo por dentro... mas é preciso q muitos comentem. Beijos

Anónimo disse...

O que é que eu vou dizer?
O óbvio? Não me apetece.
O costume? Oh pra mim a não querer chover no molhado.

Sabemos todos o que é o PDM.
Para quem não saiba, Plano Director Municipal.
Alguém sabe o que o PDM almadense faz?

E quando a autarquia dia que dá terrenos para que o estado faça uma obra, será que os autarcas pensam em dar o que é deles? Será que não querem admitir que o que dão é NOSSO?

Luís e leitores amigos, isto de tentar uma contenção, verbal ou escrita, é uma merda.
Estou vermelho por não querer despejar o que me vai na alma.

Vou ali e já venho...

Galleno disse...

Luis, de acordo.

Vivamos onde vivamos, é natural que sintamos que possamos esperar mais dos nossos autarcas em defesa dos nossos interesses.

Mas, até agora, e pelo que vejo no meu concelho (também situado no "deserto"), isso tem sido uma utopia ao longo dos anos.

Rosa dos Ventos disse...

É uma verdade incontestável!
Nem se preserva o antigo nem se aposta em projectos que melhorem o futuro!

CAP CRÉUS disse...

Realemente são mesmo todos iguais! Raro é o Autarca que se preocupa com estas pequenas coisas, que todas juntas fazem uma bem grande! Pois isto que disse ao Vice aqui do burgo!
Que tristeza.
Ande em cima deles, reclame, mande emails, escreva! É o que eu faço, e de vez em quando resulta.
Boa Sorte.

Luis Eme disse...

Tenho me esforçado mas não consigo perceber a concepção de cidade da Autarquia, Papoila...

Luis Eme disse...

Nós cacilhenses, sabemos bem do que estamos a falar, Leo...

Luis Eme disse...

Porque será que os governantes não querem ver? Porque será que as oposições só se lembram das pessoas, dois ou três meses antes das eleições?

Podia passar o dia a fazer perguntas, mas eles não respondem, Em Almada...

Luis Eme disse...

Eu acho que cada vez há menos gente a viver da "ilusão" dos ditos projectos, Minda.

A qualidade de vida dos cacilhenses tem regredido a olhos vistos, sem que os Poderes Locais se mostrem incomodados.

Talvez seja preciso virmos para a rua gritar, como na canção...

Luis Eme disse...

Ida, agora sou um "esteio masculino"?...

És uma querida. E já lá fui, claro...

Luis Eme disse...

Há tanto a dizer... e tens razão, é preciso contenção, Repórter.

Há vários vereadores que mereciam ouvir das boas, pelo péssimo trabalho que fazem pelo concelho.

Luis Eme disse...

Sabes Vili, até acho que somos muito permissivos.

Pelos atentados urbanisticos que têm sido realizados de norte a sul, há quem merecesse ser no minimo, chicoteado na praça principal de cada cidade, com o aplauso dos habitantes.

Luis Eme disse...

O que se tem desperdiçado por este país fora, Rosa...

Luis Eme disse...

Estes moços deste "burgo", raramente descem à cidade, Cap, raramente respondem, ao que eles chamam provocações...

Sofrem do mal de quem está no poder há mais de trinta anos... já não sabem ouvir, preferem olhar o espelho, capaz de lhes dizer as maiores mentiras...

CAP CRÉUS disse...

Estive com o Vice presidente de Odivelas que ouviu todas as minhas queixas, pois a isso foi obrigado. Agora não o vou largar! Por mais cansado que fique irei insistir com essa escumalha!
Boa sorte

Luis Eme disse...

Odivelas é uma cidade nova.
Oxalá que os autarcas também tenham uma mentalidade diferente, mais distante do caciquismo, que tem dominado grande parte das nossas autarquias, Cap.