
As pessoas deixaram de acreditar no colectivo, abandonaram bandeiras, que também funcionavam como âncoras, noutros tempos...
Nunca houve tantos jovens sem partido ou clube desportivo. «Para quê?», questionam eles, com a irreverência e a liberdade de escolherem o seu próprio caminho. Claro que não estou a falar das minorias que fazem parte dos "jotas" (a pensarem no futuro como "boys"...) ou nos "hooligans" das claques (a pensar na força cega da bestialidade que se enrosca na multidão).
Os meus sobrinhos cresceram, feliz ou infelizmente, sem estas febres. O mais velho, com vinte e dois anos, nunca votou. Eu já lhe tentei explicar a importância do voto, mas ele insiste, «para quê?». Falo-lhe de outros tempos, ele sorri, pouco convencido. Fala-me de anedotas, de gente como o Portas, Santana, Menezes, Durão ou Sócrates.
Futebol? Fala-me de apitos, de Loureiros, Pintos, Azevedos, e eu calo-me, sem deixar de sorrir...
Eu não consigo deixar de gostar do Benfica, apesar da equipa nunca ter jogado tão mal, como nestes tempos.
Já na política, as coisas são diferentes. Nunca fui militante em nenhum partido mas nunca me senti "orfão". Sempre votei, a pensar nas pessoas que me davam mais garantias de defender os meus ideais. Sempre votei à esquerda do PS ou em branco. Quero votar sempre, pelas vezes que os meus pais e os meus avós não votaram...
Mas não consigo fazer com que o meu sobrinho acredite que o voto é a arma do povo...
Será que ele tem razão, quando me diz: «para quê?»
A fotografia, "Homem Sentado ao Sol", é de Roy DeCarava.
14 comentários:
Um texto reflexivo muito pertinente e actual.
perante os factos, é difícil não entender a posição do teu sobrinho, luís. portugal caminha numa cegueira, infelizmente. cabe a todos nós, não políticos, exigir medidas que nos façam mudar de opinião. um grande beijinho.
Ainda quero acreditar que o voto tem esse valor, mas cada vez é mais complicado, algo tem de mudar...
Beijo Luís.
Com este texto se alerta o povo.
Mas tenho igualmente, Luís, alguma dúvida em relação à credibilidade que o voto tenha nos jovens.
Observo o mesmo comportamento no meu filho mais velho...
Não sei se têm razão, mas a falta de curiosidade sobre feitos da história tão recentes (como 25/4, por exp.) deixa-me perplexa.
Bom fim de semana, Luís!
Pois é, Rui, tão actual...
Mas como Alice? Não votando?
Talvez tenhamos de seguir o Saramago e votar em branco, Maria Maio...
Se nós temos, Observador, mais terão eles...
Esse é outro tema bem pertinente, Isabel. A culpa será nossa (pais)? Será da Escola?
Não creio que valha a pena incitar um cidadão a exercer o seu direito/dever cívico se ele por si só não se sente impelido a fazê-lo.Tal como na vida, fazer as coisas "por fazer" de nada nos serve...
Tenho pena que se verifique esta tendência dos jovens em afastarem-se da comunidade, da "coisa pública",do exercício da cidadania.
Uns refugiam-se no seu umbigo, outros refugiam-se no cliché do "no estado em que isto vai"...
Precisamente por isto "ir mal" é que os jovens, pela sua irreverência, pela audácia e pelas suas capacidades podem ser arautos de mudança.
Está nas nossas mãos encetar grandes mudanças e os primeiros passos dão-se no nosso quotidiano, nos círculos em que intervimos - família, amigos, escola, associações locais, grupos religiosos, etc.
Está nas nossas mãos mudar a nossa aldeia, a nossa cidade, o nosso país, a nossa Europa, o nosso Mundo. Podem acusar-me de idealista, utópica, whatever... mas se aos 23 anos eu não acreditar que posso moldar pelas minhas mãos o meu/o nosso futuro... ... :(
Luís,não abusando mais do seu espaço, termino deixando uma frase que gosto de lembrar aos jovens mais cépticos e mais indiferentes com que me cruzo:
"A juventude é inconformada, irreverente e até incómoda. Mas é precisamente isso que se espera dela!" (F.Sá Carneiro)
É óptimo descobrir alguém, com 23 anos, a pensar desta forma. A acreditar que o futuro (e até algum presente) é sempre construido a partir da juventude, da tal irreverência e inconformação, próprias desta idade de descobertas e de inovações.
Que bom exemplo, Dulce.
Teu sobrinho tem 22, mas conheço alguns na faixa dos 30, que moram aí, que pensam da mesma forma... :(
Até sou - e deixa-me explicar bem isso - favorável a um "não comparecimento às urnas", mas SÓ, como forma de protesto, caso seja a única opção. Sempre compareci, quando morava aí, nem que fosse para deixar meu voto em branco.
Me angustia essa alienação política porque tudo o que está a nossa volta é decidido pelas pessoas que colocamos no poder, e alguns, como o teu sobrinho e amigos/as meus não "entendem" isso.
Beijinho
É verdade, Cris...
eles não percebem a força e importância do voto...
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