Preparava-me para sair de casa quando me senti quase seduzido pela conversa das funcionárias de limpeza do Município, que limpavam a minha rua e falavam das avaliações na função pública.
A afirmação de uma das mulheres foi sintomática: «Se o chefe não for com a tua cara, posso estar aqui de costas direitas, que tenho sempre melhores notas que tu. E se lhe fizer olhos bonitos, então, é que não tens a mínima hipótese...»
Esta visão feminina foi de uma clareza quase brutal.
Continuei a minha caminhava, perguntando aos meus botões: «Porque razão não confiamos nos nossos chefes?»
Vieram-me uma série de coisas à cabeça. A primeira foi que, provavelmente, a sua subida profissional não se deveu a uma maior competência, mas sim à capacidade de "bufar" e também à subserviência exagerada (ainda existe muito boa gente que parece ter coluna de contorcionista), ainda tão presentes no mundo do trabalho.
Também temos dificuldade em confiar em chefes, que têm a mania que são "garanhos", por sabermos que basta uma das nossas colegas passear junto dele de mini saia e com um decote apetecível, para que se derreta e fique a salivar (para não dizer outra coisa...), para ter melhor avaliação que nós.
A minha questão é esta: «É possível mudar este estado de coisas?»
Claro que é.
É preciso que as chefias na função pública se tornem mais competentes e profissionais. Só desta forma é que podem e devem exigir mais dos seus subordinados.
Mas ainda falta um longo caminho. Aquelas senhoras que conversavam à minha porta, sabem disso e parecem preparadas para a luta diária que se avizinha por aí...
19 comentários:
Um pouquinho de humor!
Achas possível uma conversa dessas entre homens?
Nem todos os chefes são assim, nem tão pouco esta classe é exclusiva da Função Pública.
E a falta de profissionalismo sente-se a todos os níveis... embora a tão badalada baixa produtividade, resulte, sobretudo, da má gestão.
Mas também é preciso não esquecer que um bom chefe com uma má equipa nada consegue fazer.
Ou seja, deveria apostar-se mais na formação profissional, cívica e deontológica nos vários escalões, assim como não seria nenhum desperdício umas quantas lições sobre relações humanas.
Muito mais teria para dizer, mas fica para outra oportunidade!
Um abraço.
(e vamos lá ver se consigi manter o ritmo e não voltar a ficar tanto tempo silenciosa).
Esta visita é só para informar que acabou de nascer um novo blog cacilhense e que já linkámos o Casario.
Este tema é muito quente!
Passo.
Não desta forma, Rosa dos Ventos...
Seria talvez mais emocional, com uma série de palavrões à mistura.
É um tema pertinente Minda, vivido de forma diferente pelos vários escalões de funcionários públicos.
O que me causou mais estranheza, foi o facto de aquelas mulheres não acreditarem na justiça laboral.
Bem vindo de novo à blogosfera... "Farol".
É quente sim senhor... Maria P., e é sempre fácil generalizarmos...
Infelizmente a nossa função pública está assim e não premeia o mérito, mas sim as "amizades".
No entanto, tal situação não é exclusiva do funcionalismo público, pois também no privado, muitas das ascensões profissionais são feitas à base de chefes bem "engraxados".
Bom fim de semana
Sim, tens razão Papoila, os maus hábitos tendem a generalizar-se...
Podemos ter muitas ilusões, Luís, mas quando começamos a perceber que raramente são os mais qualificados que chegam aos lugares de topo, as coisas complicam-se.
Tens razão quando falas que podemos usar o corpo para subir um degrau... mas só um degrau. Esta vantagem só dá para um único degrau e para sermos classificadas como as "putas" de serviço. Quase sempre sem qualquer proveito, porque vocês homens, gostam muito de se gabar do que não fazem!
Não queria ir tão longe Alice...
Em relação à classificação que deste das mulheres que se deixam levar (ou que conseguem levar alguém...) nem sequer vou comentar.
Tens razão, os homens têm de facto a língua mais comprida que as mulheres. Embora pense que também há quem goste de andar nas bocas do mundo (tipo Elsa Raposo...).
Isto acontece no funcionalismo público, na privada e vai sempre acontecer porque a natureza humana é um pouco assim, amizades, laços familiares, amores influênciam-nos e muitas vezes pela negativa.
Bom fim de semana.
Porque será que tudo serve para atacar a funcão pública?
O exemplo que refere não me surpreende, mas não é exclusivo da função pública.
Este reparo, feito por si, é de todo imerecido, mas também não me surpreende.
Tenha um óptimo fim de semana e divirta-se a ouvir a conversa dos trabalhadores. Só assim perceberá o que é o mundo do trabalho.
Saudações.
Concordo contigo "vida".
A natureza humana é mesmo assim...
O seu comentário pode ter várias leituras, Repórter.
A primeira é que tem alguma dificuldade em perceber o que foi escrito.
Digo isto porque este texto não é um ataque à função pública, mas sim uma observação feita relativamente à desconfiança, que existe, sobre a futura avaliação dos funcionários públicos.
Não o quero surpreender, de maneira nenhuma, mas não acho de bom tom vir à "minha casa" insinuar que não sei o que é o mundo do trabalho, quando não me conhece de parte alguma e desconhece o meu percurso profissional.
A menos que me impeça de o fazer (há meios para isso) e mostre receio de um confronto democrático, aqui virei deixar o meu comentário, a minha opinião, sempre com boa intenção.
E acredite que percebi tudo muito bem.
Não pretendo ser dono da razão. Nem sou. Apenas admiti, e admito, a hipótese de você ter feito uma análise subliminar ao que está cada vez mais na moda.
Conhecê-lo ou não não me parece relevante.
Respeito? Sempre. Por si e por toda a gente que mostre merecê-lo.
Aceite os meus melhores cumprimentos e não se aborreça.
Este é um assunto que já me tocou de perto...mas antes de entrar nele, gostaria de comentar a expressão da Rosa dos Ventos:
Sim, e tal como refere o Luís, com um outro vocabulário.
Já vi "uma" chefe avaliar de excelente prestação em detrimento de outros, um funcionário que era o moço de recados dela, que de profissional e profissionalismo, nada tinha.
Comentando a questão: Já assisti a muitos comportamentos destes. Já estive na função pública e eu própria cheguei a envergonhar-me, de muitos comportamentos femininos.
Pessoas que não olham a meios para atingir fins.
Mas infelizmente o problema da avaliação, é comum em muitos locais. Não somente na função publica. Por possuir formação jurídica, já fui abordada muitas vezes, por mulheres que me colocam questões destas. Se hão-de fazer queixa, disto ou daquilo, porque este ou aquele encarregado ou chefe, numa ou noutra situação se insinuaram, para situações, por onde não queriam embarcar…
E a questão mais dramática, é comprovar e denunciar essas atitudes! Porque quem é sempre mais penalizada, é a mulher.
Eu própria já passei por uma situação muito penalizante para mim: sou uma pessoa por princípio, bem disposta e optimista. Sorrio com facilidade, talvez pelo meu próprio estado de alma. O sorriso de cumprimento, que dava a um determinado superior meu, foi mal interpretado e passou a mover-me uma tal perseguição, que me vi obrigada, para evitar danos piores, a pedir a transferência de departamento.
Infelizmente esta é uma situação, cada vez com maiores repercussões, no mundo profissional, onde a maioria das vezes, não é a capacidade de execução profissional que conta.
Penso que isto tem muito a ver também, com os valores morais e formação ética de cada um…
O meu Pai costumava dizer, que em todas as situações, "… cada macaco deveria estar no seu galho…" o que a maioria das vezes, não acontece.
Um abraço e bom domingo ;)
O seu testemunho "Menina Marota" foi extremamente válido.
Não vale a pena tapar o sol com a peneira, quando os problemas são reais, e não tenho dúvida, que afectam mais as mulheres que os homens, porque ainda existe muito machismo bacoco na nossa sociedade. Há sempre que utilize o poder que tem para atingir fins menos próprios... e quando não o consegue, é uma carga de trabalhos para quem está do lado mais fraco.
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