Ao passar pelo Ginjal vi que o seu histórico "Corredor" estava transformado em lixeira.
Entrei e vi que a casa onde a Júlia morou quase toda vida tinha a porta escancarada.
Não resisti e entrei, para tirar fotografias das janelas que olham para o Tejo.
Antes da Júlia ali morar, foi espaço da "Pensão Bom Gosto", que foi inspiração de um dos meus poemas do caderno, "Ginjal 1940, poemas dois", que vos ofereço:
pensão bom gosto
A mulher que
apareceu no postigo
Disse que
aquilo não era bem uma pensão
eu sabia mas
fiz-me desentendido,
saciava-se
mais o corpo que o coração.
«A clientela
é quase toda de Lisboa»,
sorriu-me ela
de uma forma enigmática.
Paguei o
quarto e subi sem geografias,
abraçado à
minha companhia simpática.
Depois de
abrir a porta e a deixar entrar
Dei alguns
passos em frente, até à janela.
Não tinha
pressa nem ninguém à espera,
abri a janela
e fiquei a ver as barcas à vela
Preferi
imaginar-me um cliente casual
e pedir à
minha companheira de viagem
para não
fechar completamente o cortinado,
porque não queria
deixar fugir a paisagem.
(Luís Milheiro)
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