sexta-feira, março 30, 2007

É Preciso Gostar do Mar e do Rio...


Quem tem filhos sabe que as crianças são pródigas em saídas invulgares, quase sempre oportunas.
Depois de todas as questões que se têm levantado sobre a Costa de Caparica e também de algumas conversas que vai ouvindo, sobre o Tejo, o Ginjal e a própria Cidade, o meu filhote tirou uma ilação clara e simples, bem ao nível da sapiência ds seus oito anos.
Disse-me que a Presidente da Câmara e os amigos não deviam saber nadar, e era por isso que não gostavam do mar e do rio....
Sorri e fiz-lhe uma festa na cabeça, para acrescentar de seguida, que não precisamos de saber nadar, para gostarmos do mar ou do rio.
Claro que as suas palavras não me sairam da cabeça. E, se analisarmos o tratamento que o Município tem dado à Costa de Caparica, à Trafaria e ao Ginjal... o Miguel até é capaz de ter alguma razão.
Se calhar eles até sabem nadar mas gostam mais de se banhar em piscinas, com água morna e sem ondas...

quarta-feira, março 28, 2007

O Adeus da Fonte Luminosa (II)


Perante o olhar de vários curiosos, as máquinas começaram o trabalho de "desconstrução" da Fonte Luminosa (ou Repuxo, que como muito bem disse o "Blackbird" até deu nome ao café que costumo frequentar).
Só desejo que daqui a uns tempos, não muito longinquos (provavelmente em ano de eleições...) a praça se erga de novo e grande parte de nós sinta, que imperou o bom gosto e que a Praça até é bonita...

segunda-feira, março 26, 2007

As Grandes Obras


António Barreto escreveu mais uma crónica emblemática no "Público" de ontem, no seu "Retrato da Semana".

António começa de uma forma brilhante, caracterizando quase todos os governantes deste país, desde o primeiro-ministro ao presidente de qualquer junta de freguesia, por mais insignificante que possa parecer, aos nossos olhos.
Não resisto a transcrever as palavras iniciais:

«Uma grande obra! É o sonho de qualquer governante banal. Ou de político achacado de narcisismo. Um monumento espantoso, uma barragem colossal, um aeroporto de encher o olho, uma catedral irrepetível, uma auto-estrada impossível, um "centro do Governo", uma "cidade judicial", um "parque tecnológico", a "maior doca do Mundo" ou o "maior lago artificial da Europa": são as grandes obras! São uma tentação! Permitem ao governante ficar na história. Deixar a sua impressão digital na pátria. dar nas vistas. Inaugurar. Descerrar uma lápide.»

Esta vaidade, este desejo de deixar obra, de descerrar uma lápide com o seu nome, tem sido uma imagem de marca de quase todos os políticos que têm exercido o poder, muitas vezes de uma forma perfeitamente inconsciente, deixando as suas Autarquias à beira da falência...
Almada não está à beira da falência mas também possui muitas obras, que têm mais de fachada que de utilidade, para todos nós.
Exemplos? O Teatro Azul (não precisava daquela magnitude para as funções que tem); o elevador da Boca do Vento (cada passageiro que sobe e desce deve dar um prejuízo assinalável ao Município); o Museu da Cidade na Cova da Piedade (a sua localização e programação não necessitavam de um investimento daquela natureza); o Fórum Romeu Correia (poderia ser muito mais funcional e menos para turista ver, quase ao estilo "Estado Novo" para as pessoas que passam por ali, diariamente).
Mesmo o Metro Sul do Tejo continua a ser uma incógnita. Será que vai servir mesmo os almadenses? Será que vai ser decisivo para o progresso da cidade? Era óptimo que assim fosse, mas com tanta polémica à sua volta, já nem sei o que pensar...

domingo, março 25, 2007

O Adeus da Fonte Luminosa


A Fonte Luminosa na Praça Gil Vicente, está cada vez mais próxima do fim.
No sábado de manhã surgiram as primeiras máquinas no terreno. Durante a semana já tínhamos assistido à presença de vários funcionários, que andaram a recolher e a transplantar as plantas menos sensíveis às mudanças.
Esta obra faz parte de uma Almada (pós Ponte sobre o Tejo) que se queria moderna e que vai ser “sacrificada” em nome de um outro progresso, que é cada vez mais incerto, tantas são as interrogações que se têm colocado aos almadenses, neste futuro próximo.
Interrogações provocadas por atrasos, teimosias e alterações de trânsito na cidade.
Basta olharmos para as polémicas que envolvem o célebre “Triângulo da Ramalha”, para percebermos que as múltiplas facilidades discursivas do Município - na voz da sua presidente e restante equipa - nas sempre “democráticas” sessões de participação pública, tal como as notícias felizes que enchem o boletim municipal, estão longe de reflectir a realidade almadense.

quinta-feira, março 22, 2007

O Edital Não Passou de uma Miragem


Quando vi um Edital afixado junto ao portão de umas habitações degradadas e abandonadas, a caminho de casa, fiquei satisfeito. Pensei que o Município estava a fazer cumprir as novas leis dos senhorios, que entre outras coisas, os obrigam a manterem os edifícios dos quais são proprietários em condições de habitabilidade. Caso contrário terão de pagar coimas de valores significativos.
Ao lê-lo, não fiquei completamente satisfeito. Descobri que o vereador José Raposo Gonçalves, apenas notificava os proprietários a realizarem um limpeza geral e a removerem os resíduos naqueles anexos.
Mais por curiosidade que por outra coisa, passei pelo Ginjal, à procura de qualquer Edital, neste começo de Primavera.
Claro que não vi qualquer sinal, de um aviso ou notificação, para os vários proprietários dos edifícios completamente degradados, que vegetam por ali...
Pelo exemplo a lei continue a ser apenas para alguns...

quarta-feira, março 21, 2007

Zé Gomes, Príncipe dos Poetas


Zé Gomes Ferreira não é só um dos grandes poetas contemporâneos, é também um excelente contador de histórias do quotidiano lisboeta, do século XX.

Por se comemorar o Dia Mundial da Poesia e se iniciar a Primavera, ofereço-vos a minha homenagem a este grande senhor, que até era capaz de dançar com as palavras...


Zé Gomes,

Podias ser apenas um rei
das palavras e dos sonhos,
mas não...
És um irmão
e um companheiro
de todos os vagabundos,
e, sobretudo,
um «João sem medo»...
de navegar pelos mundos...

segunda-feira, março 19, 2007

Combateremos a Sombra


Gosto da Lidia Jorge e dos seus livros.
Já estava expectante em relação ao seu próximo romance "Combateremos a Sombra", mas depois de ler a sua entrevista no suplemento "Ipsilon" do "Público", de 16 de Março, fiquei quase convencido de que se trata de uma excelente obra.

Mas o que faz transportar para a Lidia Jorge para o "Casario", são algumas das suas palavras sobre o nosso país e sobre a sina de muitos portugueses, bastante pertinentes:

«Na sociedade portuguesa, o final nunca é esclarecido. Portugal é o país da obra em aberto, nunca temos finais claros. Vem da penumbra, vai para a penumbra, nunca ninguém sabe ao certo o que aconteceu.»

«O português vê que nada acontece àquele que explora e, ao mesmo tempo, vê o explorador transformado em herói. A mensagem que se passa é a de que vale a pena explorar. O falsário não só não é punido como é promovido. Acabamos por ficar impotentes, com o sentimento de que não vale a pena. Anos e anos de esmagamento conduziram os portugueses a uma postura depressiva.»

Felizmente, nem tudo são desilusões, já que ela também falou na entrevista das nossas virtudes: «Há as pessoas anónimas, que são os pilares salubres desta sociedade. Pessoas que agem por bem, que respeitam os outros, que cumprem o dever apesar de ninguém os elogiar, que nunca terão o nome no jornal. Gente circunspecta. Com um grau de fraternidade muito grande, sem esperar nada em troca.»

Curiosamente ou talvez não, Lidia Jorge, ofereceu-nos um facto real (o que se passa com a justiça...) e dois retratos do nosso país, em perfeito contraponto: o falsário que apesar de ser desonesto e se prestar a todo o tipo de papel, além de não ser punido, ainda é promovido (todos nós conhecemos exemplos destes...) e o anónimo, que age por bem, respeita os outros e é capaz de ajudar o próximo sem estar à espera de nada em troca (cada vez conhecemos menos pessoas assim...).

domingo, março 18, 2007

Cães que Ladram não Mordem...


Caminhava nas ruas de Almada, quando sou surpreendido por uma voz irritada e irritante que dizia: «Eu não tenho medo deles, Tenho é medo de mim!»

Olhei para trás sem dar muito nas vistas e vi um homem a rondar os quarenta anos, pequeno e franzino, acompanhado de uma mulher. Ele não desarmava com a mesma lenga-lenga. Alguns metros à frente já matava e tudo...

Apeteceu-me perguntar-lhe se estava ali bem, na rua. Claro que não o fiz. Além de não conhecer o homem "perigoso" de lado nenhum, estava sujeito a ser enxovalhado, por me meter onde não devia...

No próximo cruzamento mudei de rua e deixei de assistir a este espectáculo, tão português. Claro que fui andando e pensando nesta maneira, mais de dizer que de fazer, tão portuguesa, do género, «Agarra-me, senão mato o gajo!»

Felizmente a maioria dos cães que ladram não mordem...

sexta-feira, março 16, 2007

A Vidinha de Empresário no Nosso País


O encerramento da Fábrica de Calçado Rohde, fez-me pensar numa prática, cada vez mais comum no nosso país, entre os muitos empresários, que não têm qualquer pejo em deixar de pagar os ordenados dos seus operários, sem contudo prescindirem das suas mordomias, donde se destacam os carros de gama alta em que se fazem deslocar, de preferência o último modelo das marcas do costume...

Quando fecha mais uma empresa, fala-se sempre de falta de competitividade e de mercado, esquecendo a incompetência e a má gestão...

Desta vez, são mais 1.300 trabalhadores, empurrados para o desemprego...

quarta-feira, março 14, 2007

Eusébio e Romeu Correia


Quando Clara me contou a história sobre a "perseguição" que lhe moveu o cineasta Arthur Duarte, lembrei-me de Romeu Correia.

Lembrei-me por uma razão muito simples. Romeu contou-me numa das nossas conversas literárias, que tinha escrito um guião para cinema, a pedido de Arthur Duarte, sobre a vida de Eusébio.

Ele teve o cuidado de me confessar, que o guião do filme era completamente diferente da fita mediocre realizada nos anos setenta, a qual assisti, no desaparecido "Cine-Teatro Pinheiro Chagas", nas Caldas da Rainha.

Infelizmente, por falta de apoios, o filme de Arthur Duarte acabou por nunca ser realizado...

Nunca lhe perguntei o que era feito do guião. Mas cuidadoso como Romeu era, de certeza que tinha uma cópia guardada em casa...

Este episódio fez com que me recordasse que o espólio do escritor e dramaturgo almadense continua "fechado" na casa onde viveu, sem ter alguém especializado, a catalogar e a organizar, tudo o que ficou de uma vida extremamente rica, e que não deve ser nada pouco...

Nem sequer me vou dar ao trabalho de falar das "culpas" do Município e dos familiares do Romeu, para todo este silêncio, cada vez mais denso, à volta da maior figura da literatura de Almada.

A única coisa que adianto, é que compreendo, cada vez melhor, a posição dos descendentes de Romeu em todo este processo...

domingo, março 11, 2007

Domingo de Sol


A Costa de Caparica recebe milhares de visitantes durante os fins de semana, assim que o Sol começa a sorrir.

A Rua dos Pescadores enche-se, num vai-e-vem de gente, que quer espreitar as ondas do mar. Os mais corajosos descem mesmo à praia. Pisam a areia e experimentam a temperatura da água. Os amantes do "solário" natural, sentam-se e deitam-se nas pedras ou então enchem as esplanadas, à procura de uma cor, para fazer inveja aos colegas na segunda feira...

sábado, março 10, 2007

Luís Represas e João Gil ao Vivo


Acabei de chegar a casa, depois de ter assistido a um excelente espectáculo oferecido às mulheres de Almada (e acompanhantes claro...) pela Junta de Freguesia de Almada, no Salão da Academia Almadense.
O concerto a dois chama-se “Encontro”, um nome bem apropriado para este feliz reencontro musical entre Luís Represas e João Gil, companheiros de aventuras há quase três décadas.
Devo confessar que, já há algum tempo que não assistia, ao vivo, a um espectáculo tão intimista, com uma interacção tão próxima entre músicos e espectadores, muito por culpa da cumplicidade e profissionalismo destes dois excelentes músicos portugueses.

quinta-feira, março 08, 2007

O Dia da Mulher


Quando estamos entre homens, é normal ouvirmos a frase batida: «Para quê um dia da mulher? Elas não são iguais a nós? Aliás, cada vez têm a mania que são mais espertas e inteligentes que nós. »
Claro que na prática as coisas não são nada assim.
Infelizmente, quase trinta e três anos depois da Revolução de Abril, esta história dos direitos iguais entre homens e mulheres, continua a ser quase uma ficção.
Somos uma sociedade onde não se perdeu o hábito de fingir que está tudo bem, mesmo quando sabemos que o vizinho do segundo andar gosta de se encharcar em álcool e, vá-se lá saber porquê, deixa a mulher marcada a negro, tal como tantos cobardes, que escondem as frustrações e os complexos, dentro das quatro paredes, com a distribuição de porrada pela mulher e pelos filhos...
Se fossemos realmente todos iguais, nos direitos e deveres, podíamos apagar o Dia Internacional da Mulher do calendário...
Mas enquanto isso não passar de uma frase batida, beijem e abracem as mulheres que amam com ternura e ofereçam-lhe flores, sempre que vos apetecer, sem estarem à espera do dia 8 de Março...

terça-feira, março 06, 2007

Certezas & Utopias


É notório que estes socialistas, que estão no poder, levam cada vez menos à letra, o significado do nome do partido, o simbolismo do punho fechado e até os estatutos do próprio partido.
Isto não me incomodava muito se eles hoje não se confundissem com o próprio Estado. Estado esse que prefere “navegar” em águas demasiado turvas, onde as mudanças e a confusão são uma constante, por razões que escapam, quase sempre, ao cidadão comum...
Não gosto de gente assim, sempre carregada de meias mentiras nos bolsos, e pior, com intenções pouco claras de reformas, na saúde, educação, justiça e segurança.
A próxima “batalha” de Sócrates, para nos roubar mais espaço, é fundir todas as polícias, deixando-as com um único chefe (desculpem lá mas isto é tão revoltante que me faz lembrar os tempos de Salazar, em que o major Silva Pais, director da PIDE, ia a despacho directamente com o presidente do conselho de ministros...).
A criação de um único cartão de identidade, já me tinha feito pensar numa ideia praticamente utópica, de podermos comprar a nossa liberdade, com o compromisso de não beneficiarmos, do que quer que seja do Estado, e se fosse preciso, até pagarmos uma quota para pudermos circular livremente no país...
Tenho a sensação de que estão a querer roubar-nos a Liberdade de Sermos Quem Quisermos.
Quase que me apetece emigrar, para qualquer país do terceiro mundo, mesmo onde existam ditaduras e ditadores, quase com a certeza, de conseguir olhar para tudo o que me rodeia, com muito mais claridade...
Este desenho de Rui, com Agostinho da Silva e um dos seus gatos, simboliza a liberdade individual de todos nós, através deste grande pensador que nunca teve cartão de contribuinte, apesar de ser obrigatório, num claro desafio ao Estado Português...

domingo, março 04, 2007

Naide Gomes Campeã Europeia


A excelente atleta almadense Naide Gomes sagrou-se ontem Campeã Europeia de salto em comprimento em pista coberta, com a excelente marca de 6,89 metros, que passou a ser simultaneamente recorde nacional e a melhor marca mundial do ano.
Esta vitória, que nos encheu de felicidade, lembrou-me quase de imediato o meu saudoso amigo Henrique Mota, praticamente o único elemento da “tertúlia cacilhense do Repuxo” , com quem falava de atletismo e cujo saber enciclopédico era digno de registo.
Sei que se ele ainda estivesse por cá, hoje, tínhamos conversa pela manhã dentro nas mesas do “Repuxo”, sobre a nossa campeã, perante a perplexidade dos outros companheiros, que não fazem ideia o que é um salto de tesoura ou um salto de extensão...

sexta-feira, março 02, 2007

O Triângulo da Discórdia


O Triângulo da Ramalha continua a fazer correr tinta, pelo menos em alguns blogues de Almada.

Há realmente coisas muito mal explicadas em todo este processo. Não tenho dúvidas que há no mínimo falta de transparência na explicação e resolução deste caso. Depois de ler esta notícia, apeteceu-me levantar algumas questões:

- Será que a Autarquia de Almada vai mesmo levar a sua teimosia até ao fim, fazendo valer os seus argumentos, contra os moradores da zona da Ramalha e o próprio estudo técnico efectuado pelo Governo?

- Há mesmo vários órgãos de comunicação social, a fazerem o jogo do Município?

- Se há, o que ganham com tudo isto?

quinta-feira, março 01, 2007

Uma Mulher de Sonho


Uma cacilhense, quase octagenária, contou-me uma história deliciosa, quando foi convidada por um realizador para participar num filme português.

Clara foi descoberta numa viagem de cacilheiro por Arthur Duarte (realizador de dezenas de filmes, dos quais destaco "O Leão da Estrela", o "Costa do Castelo" e "A Menina da Rádio"), no final da década de cinquenta.

Arthur não sabia muito bem o que queria, sabia só que queria alguém que não fosse profissional e tivesse uma beleza especial. Atravessou o rio por acaso, para almoçar no "Gonçalves". Assim que viu a mulher de cabelos e olhos claros, percebeu que era ela, que procurava...

O mais curioso foi que ao fim de uma semana, já tinha esquecido o filme, queria era conquistar aquela mulher, de pouco mais de trinta anos. Claro que não o conseguiu. Por várias razões.

Porque Clara estava bem casada com o João e porque não gostava de homens mais velhos. Além disso, apesar de gostar de se vestir bem e ser vistosa, era uma mulher séria, que nunca pensou ser actriz, nem mesmo nos palcos amadores...
Este retrato pintado por Eduardo Malta foi a imagem mais parecida que encontrei da Dona Clara, uma mulher que continua bonita, por dentro e por fora...