sexta-feira, agosto 25, 2023

Não levantar ondas, manter o "mar chão"...


Estou a fazer um trabalho sobre o papel da Incrível Almadense durante a ditadura salazarista e marcelista e noto que foram feitas muitas actividades entre 1926 e 1974, que colocavam, de alguma forma, em causa o regime, nomeadamente vários colóquios cuja temática enaltecia os valores democráticos.

Um dos truques usados era fazer o anúncio do colóquio sem o nome do orador. Outro era amenizar o título da temática, não colocando algumas das "palavras proibidas" pelo regime. Mesmo assim não sei como é que algumas palestras não foram "canceladas", como por exemplo: "As Virtudes e os Defeitos da Republica" (por Raul Esteves do Santos em 1946); "O Recreio na Vida dos Trabalhadores"  (por Raul Esteves do Santos em 1948); "As Instituições populares e a Emancipação do Povo" (por Gomercindo de Carvalho, em 1964); ou "O Sentido da Vida Social" (por José Correia Pires em 1966). 

As pessoas das Colectividades faziam estas coisas com a maior naturalidade possível, pois sabiam que o mais importante era não levantar ondas, manter o "mar chão"...

(Texto publicado inicialmente no "Largo da Memória".

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, agosto 23, 2023

Cacilhas voltou a ficar liberta das "casas azuis"...


Era mais que previsível, acabavam-se as Jornadas da Juventude, acabavam-se as casas de banho azuis no Largo de Cacilhas.

E lá voltaram os cantos mais recônditos desta porta de entrada para a Margem Sul a ficar perfumados, por quem precisa, urgentemente, de "verter águas".

Não é menos previsível o habitual fechar de olhos de quem governa e tem mais que fazer que se preocupar com o xixi alheio...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, agosto 11, 2023

"Os três jovens que ajudaram a fundar a SCALA"...


Escrevi há pouco tempo um texto sobre os três associativistas que possuíam o espírito mais jovem, entre os 15 fundadores da SCALA - Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada, que no próximo ano faz 30 anos de vida. O título que lhe dei diz quase tudo: "Os três jovens que ajudaram a fundar a SCALA".

Claro que não medi a sua juventude pelos números que constavam nos seus Bilhetes de identidade (em 1994 ainda não existia a CC...). Se o fizesse ultrapassava os 200 anos e acabava por estragar a "loiça toda".

Falo de Henrique Mota, Fernando Barão e Diamantino Lourenço, que felizmente ainda está entre nós e festeja hoje os seus 92 anos de vida e vai continuando em boa forma (tendo em atenção o seu escalão etário, claro...). física e intelectual.

Mesmo tratando-se de uma opinião, que apenas vincula o seu autor, ela é feita com conhecimento de causa. Estas três grandes figuras locais, além de oferecerem o seu historial cultural e associativo a uma Colectividade que dava os seus primeiros passos, também arregaçaram as mangas e deram um contributo decisivo para o crescimento da SCALA nos primeiros anos. 

Diamantino tinha ainda uma outra característica pessoal, que fazia dele um verdadeiro "operário da cultura", não se escusava a nenhuma tarefa, tanto podia pregar um prego na parede para uma exposição como escrever um texto escorreito, sobre qualquer grande figura de Almada ou do País, para o boletim. 

Sei que na parte final do texto que escrevi, sobre o grande contributo que estes três amigos deram à SCALA e à Cultura Almadense, levanto uma questão pertinente: como teria sido esta Associação, se tem sido fundada dez anos antes (o Henrique em vez de ter 73, tinha 63 anos, o Fernando em vez de ter 70 tinha 60 anos e o Diamantino em vez de 62 tinha 52 anos). Com toda a certeza, teriam  dado ainda mais de si ao Associativismo Cultural de Almada, tornando a SCALA ainda mais relevante.

E já me estava a esquecer: "Parabéns Diamantino!"

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas, a "Tertúlia do Repuxo")


sábado, agosto 05, 2023

A Vida é Isto...


Talvez possam achar que duas pessoas não fazem uma "Tertúlia", mas eu e o Chico não pensamos assim, porque não nos é nada difícil convocar um ou outro amigo ausente, a pretexto de um nada que pode ser tudo...

Neste Verão temos contado quase semana sim semana não com o Tomás (uma ou outra vez com companhia), o bisneto do Chico, que com os seus treze, catorze anos, se insere muito bem nas nossas conversas, e coisa melhor, sabe ouvir e sabe falar. Ou seja, é um bom tertuliano. Quando o Carlos nos diz a brincar que estamos a renovar a "Tertúlia" com sangue novo, sorrimos. Não tanto pela tal renovação, mas por sabermos que o Tomás nos trás coisas novas (até uma ou outra anedota...), recebidas com um sorriso fraterno, por mim e pelo avô.

Pode parecer que não tem nada a ver, mas para mim tem tudo a ver. 

Falo do telefonema que recebi hoje do Chico a dizer-me que o nosso companheiro Luís Serra tinha partido. O Luís fez parte da nossa "Tertúlia do bacalhau com grão", durante vários anos. Problemas familiares e de saúde ditaram o seu afastamento voluntário (ainda insistimos para quem ele continuasse a aparecer, porque o nosso encontro semanal podia funcionar como um "bálsamo", como acontecia com o bom do Orlando, que nos dizia que "renascia" às segundas-feiras...). Não conseguimos inverter esta sua "marcha solitária" e agora recebemos a notícia do seu adeus.

Fica a saudade do amigo, do associativista e do artista almadense (construía miniaturas de barcos com uma minúcia e uma arte digna de realce).

(Fotografia de Carlos - Almada)


quarta-feira, agosto 02, 2023

A ausência nas ruas do tal "gesto que valoriza o resto"...


A teoria sempre foi diferente da prática. Sempre foi mais fácil falar que fazer.

Mas não deixam de ser curiosos alguns anúncios "verdes" e "ecológicos" do Município (como este), quando as ruas são o melhor exemplo do desleixo com que as autarquias locais tratam os almadenses.

Talvez os políticos almadenses sejam tão modernos que olhem para os nichos que se criam à volta dos contentores, ou a sujidade que se cola aos espaços verdes (e por ali se mantém semanas e semanas), como "instalações artísticas"...

E eles até estão certos na publicidade, é de facto "o gesto que valoriza o resto". Só que, infelizmente, trata-se apenas de publicidade. "Gestos que valorizem o resto"  vêem-se muito pouco nas ruas de Almada...

(Fotografias de Luís Eme - Cacilhas)