A minha última crónica obriga-me a fazer uma pequena reflexão sobre a importância do futebol no nosso país e no mundo.
Gosto muito deste desporto, que além de ser extremamente fascinante, foi muito bem idealizado. Penso que esta opinião é partilhada por todos aqueles que tiveram a oportunidade de correr atrás de uma bola em qualquer campo baldio, com o objectivo de a chutar para as balizas improvisadas, atrás da vitória. Eram jogos deliciosos, disputados sem cronómetro e sem árbitros, no habitual "muda aos cinco acaba aos dez".
Tenho pena que a alienação e os muitos interesses económicos e sociais tenham retirado alguma da beleza inicial do futebol, mas esse foi o preço que tivemos que pagar pela sua modernidade e transformação em espectáculo de massas, que acabaria, naturalmente, por se revelar um excelente negócio, pelo menos para alguns.
Provavelmente esta é a parte mais negativa do futebol.
É por isso que é usada abusivamente por algumas vozes criticas (Pacheco Pereira é o porta estandarte...), incapazes de perceberem a sua importância junto de milhões de portugueses, eternos perdedores no dia a dia e cujas carências sociais e económicas os levam a viverem as vitórias dos outros como se fossem suas. Os êxitos dos clubes e da selecção são uma das poucas oportunidades que têm de sorrir e ter alguma esperança no futuro...
Isto acontece em todos os países onde os cidadãos são menorizados por quem governa. Infelizmente, esta continua a ser a prática governativa no nosso país.
Nã posso fugir a um lugar cada vez mais comum: culpar Salazar do nosso atraso e ignorância em relação aos outros países do velho continente. Mas ele é, sem sombra de dúvida, o grande culpado da falta de amor próprio e até de ambição pessoal dos nossos pais e avós, já que como estadista sempre tratou os portugueses como uns coitadinhos, como se tivessem qualquer atraso cognitivo.
Só que o nosso país já vive em democracia há mais de trinta e dois anos e as coisas não mudaram assim tanto...
É por isso que aponto o dedo a todos aqueles que já foram Poder e que nunca apostaram a sério na Educação e na Cultura dos portugueses. Pacheco Pereira também tem responsabilidades, embora normalmente fale como se nunca tivesse sido deputado ou exercesse cargos partidários com responsabilidade.
Todos nós sabemos que um povo sem cultura e educação é mais ignorante, mais maleável e mais embrutecido.
O grande culpado do nosso atraso não é o futebol, mas sim, todos aqueles que só se têm preocupado com os seus umbigos e com as suas contas bancárias desde a Revolução de Abril.
O país só vai mudar quando se tomarem medidas sérias para acabar com o populismo governamental, com o caciquismo autárquico, com o ensino oco que fabrica doutores que nem sequer sabem escrever correctamente português; com uma comunicação social subserviente e rasca - especialmente a televisão, entre outras coisas. Ou seja, quando houver gente séria e responsável a governar este lugar, cada vez menos paradiziaco, plantado à beira mar.
O futebol? Não tem qualquer culpa de ser um jogo bonito e fascinante...