Embora more em Almada há vinte seis anos, só ontem é que assisti à primeira parte da procissão de S. João.
Sim, primeira parte. No fim da tarde de 23 de Junho S. João é levado da Igreja de Santiago para a Capela da Ramalha, onde pernoita e fica até ao fim da tarde seguinte, quando se assiste à segunda parte da procissão, com o seu regresso à Igreja de Santiago, no percurso inverso.
É uma procissão de quase duas horas e que exige alguma resistência física, apesar da maior parte dos participantes pertencerem à terceira idade. Parte da Igreja de Santiago, no Jardim do Castelo, percorre a rua Capitão Leitão até ao Cabo da Vila e depois segue na direcção do Pragal, descendo na direcção da Capela da Ramalha, na rotunda junto à estátua de Fernão Mendes Pinto.
Há duas lendas associadas a estes festejos, a primeira relata um caso de amor entre um soldado cristão das tropas do rei D. Afonso Henriques e uma bonita princesa moura, que acabaria por provocar uma batalha entre portugueses e mouros, na Ramalha, que teria contado com a ajuda de S. João, na vitória lusitana.
A segunda lenda fala também de uma batalha, mas já nos tempos de D. Sancho I, ocupado com a reconquista do território e que travou uma batalha contra MIramolim de Marrocos e vence, mais uma vez com as boas graças de S. João.
Associada a esta lenda e à procissão era organizado também um arraial, um desfile de carroças e galeras, e engalanadas com canas verdes e flores campestres, que transportavam pessoas e merendas, acompanhados por ranchos de folgazões, que se faziam acompanhar por músicos das bandas das colectividades de Almada e animavam a festa.
Estes festejos pagãos das colheitas realizaram-se até aos anos sessenta do século passado.
Segundo rezam algumas crónicas, o seu fim estará ligado aos desacatos provocados pelo consumo excessivo de vinho da região, que fazia com que algumas rivalidades locais viessem ao de cima e a festa acabasse da pior maneira.