quinta-feira, março 30, 2023

Almada: Quando a Ficção Finta a Realidade...


Como é comum dizer-se nos nossos dias, Almada esta diariamente no "olho do furacão".

Ou seja, é cenário preferencial de uma das novelas da SIC ("Sangue Oculto"), em que se percebe que o responsável pela imagem é muito bom, pois consegue oferecer a todos os espectadores lugares paradisíacos do Concelho. A Costa de Caparica até parece uma das melhores praias que temos para se passarem férias, escondendo muito bem o que de facto não interessa mostrar. Excelente trabalho turístico!

Mas o que eu quero falar mesmo é da Almada-Cidade. O realizador a par do director de fotografia conseguem oferecer imagens de grande beleza, nem parece a cidade onde habito. Os "drones" foram uma grande invenção e possibilitam imagens aéreas nocturnas e diurnas dignas das grandes séries. Mesmo os grandes planos são muito bem escolhidos, até porque Almada tem lugares realmente agradáveis e bonitos.

Claro que esta não é a cidade que os almadenses enfrentam todos os dias, com as estradas cada vez mais esburacadas (agora há a moda de sinalizar os buracos em vez de os tapar...) ou com os contentores cheios de lixo, que acaba por se acumular nas suas redondezas...

Provavelmente a CDU nunca mais será poder em Almada (os tempos e as gentes são diferentes...), mas até pessoas que nunca votarem nesta força política, dizem que nunca se sentiram tão "abandonadas" como na actualidade. Não se vê um político, mesmo da Junta de Freguesia, nas ruas (que saudades Renato...), a tomar o pulso da cidade. 

E claro, não conseguem fugir da realidade, por mais telenovelas bonitinhas que façam tendo Almada como cenário. E desabafam que nunca viram  a cidade tão suja e desmazelada...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, março 27, 2023

A Descoberta de Um Conto do Romeu de 1951...


Não fazia ideia que o Romeu Correia tinha participado numa pequena antologia de contos (com Fernando Namora, Antunes da Silva, Alberto Pimentel), no já longínquo ano de 1951, da Colecção Horizonte. É também oferecida juntamente com os contos uma pequena litografia de Manuel Ribeiro de Pavia (ainda em bom estado, tal como o livro que não ultrapassa as sessenta páginas.

A história que ele conta tem como título, "A Tampa do Bule". Tudo indica que é autobiográfica, que aborda a separação do pai e da mãe, onde a figura central é o António, um menino de sete anos, cuja idade faz com que os adultos tentem que ele passe um pouco ao lado de todo aquele drama...

Mais uma bela surpresa, descoberta por aí...


quinta-feira, março 23, 2023

Não Desistir é também Resistir...


Em Almada há demasiadas coisas em "crise". Umas acontecem de forma naturais, outras são provocadas.

Por saber que é cada vez mais difícil fazer coisas com o apoio do Município (onde será que eles metem o dinheiro?...), que quando chega, vem tarde e a más horas, não posso deixar de aplaudir quem não desiste, quem continua a bater às portas dos poderes, para que estes cumprem a sua missão, que é apoiar a Cultura, o Associativismo, a História Local (pois é, Almada até tem história, com praticamente a mesma idade do nosso País...).

Não, ainda não somos apenas a tal "cidade-satélite" (o que quer que isso seja...) de Lisboa...

E que bonita é esta capa de "O Pharol", da autoria de Júlia Capelo, uma das últimas habitantes do Ginjal (os "ocupas" destes tempos quase modernos não contam...), do "corredor do Ginjal".

E é muito bom sentir, que não desistir é também resistir...


terça-feira, março 21, 2023

"A única coisa que sei, é que era Liberdade"



A única coisa que sei, é que era Liberdade 

Olho para trás, sem virar o pescoço.
Bebo o café com mais prazer
porque sinto que estou acompanhado, 
por quase uma dúzia de amigos
que já não há.

Não sei se era poesia.
Talvez não. Era um misto de sensações,
onde cabia uma anedota e um pedaço de história,
um sorriso com e sem espanto.

Olho para trás, continuo sem mexer o pescoço.
Finjo desconhecer
se incomodávamos, ou não, os outros
plantadas nas mesas em redor.
Provavelmente sim.
Uns com inveja de não ter uma "tertúlia"
outros incapazes de ler o jornal sem silêncio.

Não digo que fosse melhor ou pior
era sim um tempo diferente,
as pessoas gostavam mais de conversar
de ler jornais e de conhecer os livros por dentro.

Olho para trás, sem conseguir mexer o pescoço.
Sem fazer contas com os dedos
sei que nesses anos noventa
havia menos dedos e mais tertulianos.
Hoje sobram tantos dedos...

Não resisto a dizer
que éramos mais livres.
Falávamos de tudo e mais alguma coisa.
O café era igual ao país,
muito, muito mais democrático.

Continuo sem saber se era poesia
o que se colava à nossa mesa.
A única coisa que sei, é que era Liberdade. 

Luís [Alves] Milheiro


(não sei se é poema, sei apenas que é a minha homenagem aos meus amigos tertulianos, que me receberam de braços abertos no "Repuxo" e foram fundamentais para conhecer e gostar da Almada da história e das culturas...) 


segunda-feira, março 20, 2023

A Primavera no Ginjal


A Primavera, a mais bela de todas as estações está a chegar, a todo o lado, até ao Ginjal.

Sente-se nos dias mais quentes e mais longos, e também mais floridos...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, março 08, 2023

Elogio ao "Quase Invisível" Arquivo Histórico de Almada


Tenho publicado num dos meus blogues (Olhar [e Amar] o Tejo), pequenas transcrições da conferência de Agro Ferreira, proferida em 1933, em Almada, quer teve como título, "A Avenida da Margem Sul e os Transportes do Tejo" (posteriormente publicada num pequeno opúsculo), retiradas do sempre útil, "Almada na História" (boletim de fontes documentais), publicado pelo Arquivo Histórico de Almada.

Este boletim, por ter mais textos que imagens, passa um pouco ao lado dos almadenses (a excepção são as pessoas que se interessam pela História de Almada...), mas é um bom retrato do excelente trabalho, quase invísivel, produzido pelo Arquivo Histórico de Almada, que por isso mesmo, merece o nosso elogio.


terça-feira, fevereiro 28, 2023

Não se Explica, Participa-se...


Hoje à tarde passei pela "Festa das Artes da SCALA",  a exposição anual colectiva, que está na Oficina da Cultura, acompanhado.

Quando me disse que eu, e mais duas ou três pessoas, estávamos ali a mais, limitei-me a sorrir. Até porque não havia ninguém que estivesse ali representado, cuja participação não fosse voluntária...  

Não sei se o disse por saber as razões do meu afastamento desta associação cultural,  se foi pelo que viu nas paredes. Provavelmente foi pelas duas razões...

Mas se a exposição for encarada como uma "festa", não se explica, participa-se.

Voltou a insistir, que se tivesse passado ali vinte anos antes, encontrava as mesmas coisas. Embora tivesse alguma razão, estava farta de saber qual era o espirito da exposição, sabia que não havia grande espaço para mudanças.

Tenho sempre dificuldade em acompanhar as críticas a esta exposição (umas maiores outras menores). Claro que se poderia reinventar em alguns aspectos, usar mais criatividade e inovação. Mas isso são sempre coisas difíceis de se conseguir em eventos colectivos.

E claro que não se deve proibir ninguém de expor...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, fevereiro 17, 2023

"Uma Sereia Chamada Ermelinda"


Nos anos em que ando mais envolvido com projectos literários, leio menos.

O mais curioso, é esta quase pausa, começar logo em Janeiro, mesmo que no começo do ano ainda tenha bastante disponibilidade para ler.

Este mês pensei que talvez seja possível "fintar" esta quase paragem com a escolha de livros mais pequenos e interessantes... A minha primeira escolha foi a peça de teatro "Uma Sereia Chamada Ermelinda", da autoria de Alexandre Castanheira (lida em dois "actos"...). O mais curioso, foi ter assistido à peça em 2011 (ano da edição do livrinho que me foi oferecido pelo autor...), que se baseava no romance autobiográfico, "Cais do Ginjal", de Romeu Correia, encenada pela Associação Manuel da Fonseca, e nunca a ter lido.

Gostei de ler a peça, porque Alexandre Castanheira não se cinge ao "Cais do Ginjal" (pelo menos foi o que senti...), há por ali pequenas coisas dos "Tanoeiros", do "Tritão" e até de obras biográficas, como a história de vida de Armando Arrobas, que Romeu quase imortalizou.

E tem também uma forte componente de resistência e consciencialização política, através da Ermelinda, que é muito mais que uma "sereia"...

Foi bom reviver lugares e personagens (dentro e fora dos livros), numa obra que tem uma dedicatória muito singular e pessoal...

(Texto publicado inicialmente no "Largo da Memória", mas por falar do Ginjal, fazia sentido trazê-lo para cá...)


sexta-feira, fevereiro 10, 2023

Apresentação do Documentário "Do Castelo ao Chafariz, passeando por Alfama"

 


Nota: Houve alteração no local da projecção multimédia dos meus amigos, Luís Bayó Veiga e Modesto Viegas, passou do "Salão das Carochas" para a sede da SCALA. 

domingo, fevereiro 05, 2023

O Voto de Qualidade do Senhor Presidente...


Li a notícia no site do "Record" e pensei logo que tinha tudo para dar errado...

Estou a falar da decisão tomada na assembleia geral do Clube Desportivo Cova da Piedade (aliás, tomada pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral do Clube, através do seu voto de qualidade, após um empate entre 33 sins e de 33 nãos...), de acolher o clube "sem abrigo", cujo nome passou a designar-se por apenas uma letra a B, após ter sido "corrido" do Clube de Futebol "Os Belenenses", que apesar de ser um clube de primeira, não teve qualquer problema em voltar aos distritais.

Felizmente foi subindo todos os anos de divisão e hoje já está na Liga 3, que parece um campeonato de históricos, principalmente na sua zona, onde tem como adversários o Vitória de Setúbal, a Académica, o Caldas, o Alverca, o União de Leiria e o Amora, que já estiveram na Primeira Divisão.

Voltando ao Cova da Piedade, depois de ter tido uma SAD com capital chinês de triste memória, que depois de deixar um rasto de dívidas, decretou falência, volta a "navegar" no erro, ao juntar-se a outra sociedade que pelo exemplo que deixou em Belém, também não honra os seus compromissos. 

Percebe-se à légua que a lei sobre as sociedades desportivas devia ser mais transparente e também mais exigente. Contam-se os exemplos de mais de uma dúzia de clubes, que tiveram de mudar de nome para poderem continuar disputar os campeonatos de futebol. E outros, tiveram de fazer como o Belenenses, começar de novo nos distritais... 

Talvez o exemplo mais recente e mediático, seja o do Desportivo das Aves, que até teve a Taça de Portugal, que conquistou no jogo com o Sporting de triste memória (depois da invasão de Alcochete...), em leilão...

E é por tudo isto que digo, que esta união, tem tudo para dar errado.

E ainda há um aspecto não menos interessante: onde irá jogar esta SAD? Será que vai voltar ao Estádio Municipal da Cova da Piedade, apesar do rasto de incumprimentos que deixou atrás de si?

Texto publicado inicialmente no "Largo da Memória".

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


terça-feira, janeiro 31, 2023

Um Trinta e um de Janeiro ainda bem vivo em Almada...


As principais artérias de Almada ainda cheiram à "Primeira República" e ao "31 de Janeiro" (de 1891).

E tudo começa em Cacilhas, na Rua Cândido dos Reis... algumas centenas de metros à frente podemos subir pela Rua Elias Garcia, que nos leva até ao coração de Almada, à Rua Capitão Leitão (um dos heróis do 31 de Janeiro...), que apesar do passar dos anos, continua a ser a via mais emblemática da Cidade.

Mas não nos ficamos por aqui. Na chamada "Almada Velha" (em redor da rua Capitão Leitão), encontramos também a rua e a travessa Henriques Nogueira (o ideólogo republicano), mas também as ruas Heliodoro Salgado, Latino Coelho, José Fontana ou Rodrigues de Freitas.

São todas ruas centenárias, que continuam a honrar a República e os Republicanos.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, janeiro 20, 2023

"A Avenida Central e Histórica da Nossa Terra"


Poucas pessoas conseguiram expressar o seu amor por Almada e pelo Associativismo Popular, através de palavras, como o Orlando Laranjeiro. Tem poemas muito bonitos e sentidos, mas também muita prosa. A sua "Rua Direita" (Rua Capitão Leitão), está sempre presente, como neste pequeno texto onde recorda a importância do Associativismo na vida dos Almadenses:

«Embora já, com grande dificuldade, ainda me consigo deslocar até à minha velha Rua Direita, que foi a Avenida central e histórica da nossa Terra, onde passearam e viveram muitos dos grandes vultos Almadenses.
Avenida onde funcionaram e ainda funcionam, embora de maneira mais lenta, as suas velhas “Universidades,” reconhecidas como Colectividades de Cultura e Recreio. Quanto a mim, as mais importantes. Mas também por lá nasceram, moraram e ainda moram, outras agremiações, tais como: Associação de Socorros Mútuos, Almada Atlético Clube, Clube campismo de Almada, e Associação Amigos da Cidade de Almada, que também contribuíram e têm contribuído de maneira empenhada, para o nível Associativo, cultural e cívico, que constituiu, e de certo modo, ainda constitui, o ADN de 
grande parte dos Almadenses.»


(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, janeiro 18, 2023

Mais um Grande Amigo que nos Deixa...


Não quero transformar o "Casario" num obituário, mas não posso deixar de prestar aqui, a minha homenagem a um dos meus grandes Amigos e um excelente Mestre da história e das histórias de Almada, que nos deixou hoje.

Falo de Orlando Laranjeiro, que foi um dos grandes associativistas do concelho de Almada do século vinte (fez um trabalho notável na Incrível Almadense), um desportista de grande valor (atleta internacional de andebol e treinador vice-campeão nacional com as cores do seu Almada), mas sobretudo, um homem de grande carácter e dignidade.

E como ele gostava de estar com os amigos... Foi por isso que ajudou a criar várias tertúlias e jornadas de convívio, que também serviram para homenagear grandes figuras de Almada.

Embora não gostasse de ser tratado como poeta ou escritor, também nos deixa uma obra de grande valia no contexto local, com três livros ("Almada, Terra Coragem"; "Deixem-me ser Quem Sou!" e "Almada nas Asas do Sonho") que dizem muito sobre a personalidade deste homem solidário, amante da verdade e extremamente sensível, em relação à história da sua Terra e também às questões sociais que nos rodeiam. 

Não era por acaso que, algumas das coisas que mais o incomodavam nos seus últimos tempos era o crescimento do egoísmo, do individualismo e do populismo (que trazia quase colada a extrema-direita...).

A melhor maneira de fechar este pequeno texto, é recorrer à parte final do prefácio que escrevi do seu terceiro livro: "Nunca é demais agradecer-te, Orlando, por seres um gigante no Amor, na Amizade e na Solidariedade!"

(Fotografia de Luís Eme - Almada)