quinta-feira, novembro 30, 2006

O Fascínio da Pesca


Não tenho dúvida que os pescadores são os melhores companheiros do Ginjal, pelo menos nestes tempos de abandono e de placas intimidatórias...
Nem sequer sei se existe muito peixe na nossa margem do Tejo. Existe sim o prazer em "dar banho à minhoca" (adoro esta expressão), dos pescadores de todas as idades, e às vezes algumas mulheres, também de diferentes idades, entretidos na pescaria e na contemplação das águas do rio que banha o Ginjal.
Houve uma altura que pensei em experimentar esta actividade, por a achar poética. Claro que se o fizesse, teria de levar um caderno ou bloco, misturado com os apetrechos de pesca, para registar aquelas coisas que surgem, de momento. Acabei por não experimentar...
Por falar em pesca e pescadores, lembrei-me de um cacilhense, que não passava sem as suas pescarias no Tejo, mas como não gostava de peixe, oferecia todo o seu pescado aos companheiros de pescaria ou à vizinhança. Falo de Jaime Feio, uma grande figura da cultura almadense, do século XX.

terça-feira, novembro 28, 2006

Avenida Sul do Tejo

Já falámos mais que uma vez, do sub-aproveitamento que se tem feito de toda a Margem Sul, especialmente do espaço entre Cacilhas e a Trafaria.
É por isso que achámos importante referir aqui a existência do opúsculo "Avenida Sul do Tejo, Cacilhas-Trafaria", publicado em 1933, da autoria de Agro Ferreira (1879-1943), um grande empreendedor e defensor do desenvolvimento da Outra Banda, que exerceu as funções de vereador no Município de Almada.
Nestas páginas Agro Ferreira diz com entusiasmo: [...] «Uma avenida que, partindo de Almada, fosse até à Trafaria, transformava magicamente a perspectiva inteira do porto. Dava, em pouco tempo, uma outra vida e uma outra animação ao rio. Modificava em meia dúzia de anos, e com todas as vantagens, a própria fisionomia da capital do País.[...]»
Mas vai mais longe: [...] «Só quem não tenha entrado a barra, a bordo dalgum transatlântico é que desconhece a impressão humilhante de ver desaproveitada a margem sul do Tejo, a "margem interdita". É uma vergonha, com franqueza!... [...]»
O único comentário que nos apraz registar é este: Passados setenta e três anos a vergonha continua...

segunda-feira, novembro 27, 2006

Os Poetas são Imortais



Mário Cesariny despediu-se ontem de nós,
mas a sua poesia e a sua arte

vão continuar presentes
durante longos anos...
porque os poetas são imortais...




A pintura que ilustra esta pequena homenagem a Mário Cesariny de Vasconcelos (1923 - 2006) é da sua autoria.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Poesia Amável


«Se não tivesse sido a esquadra americana, que fez esgotar a cerveja na cidade, eu não teria ido à outra banda beber um fino... Não nos teríamos encontrado, por conseguinte.
Mas, também, se o teu isqueiro não se tem avariado e a tua voz não fosse - até na adversidade! - manselinha (« - Por favor...» Nas comissuras dos lábios, tanto destino cruzado! « - Muito obrigado, Senhor...») sequer teria reparado em ti...
Qual é a explicação da tua voz? Herdaste-a de teus pais? De teus avós? De que Senhora Aónia és descendente?
« Poeta desempregado...» espalham para aí os teus. Mas se não fosse um poeta... quem te houvera de amar, ó minha feia? E empregado... como é que eu poderia, às quatro horas - numa quinta-feira - estar, digam-me lá, na outra banda?
Os marujos... e se eles eram cupidos... (crescidos, americanos, vestidos à marinheira...) que nos feriram com uma seta, teleguiada certeira...
.........................................................
Foram as manobras da NATO...
Foi um isqueiro empanado...
Foram as voltas do Mundo...
Foi uma loucura (dizem os amigos)
... que engendrou - cegamente - o nosso encontro em Cacilhas.
Coisa tão bela e absurda como o aparecimento do homem!
Este poema prosaico de José Fernandes Fafe, chama-se "Metafísica do Encontro" e faz parte do seu livro "Poesia Amável", que deu o título a este "post", a pensar também no José do Carmo Francisco, poeta e amigo dos grandes, que me fez chegar esta viagem de um outro poeta a Cacilhas...

quarta-feira, novembro 22, 2006

O Vinho do Ginjal


Um das indústrias que floresceram no Ginjal, no seu período áureo, foi o armazenamento e distribuição de vinhos, dos quais ainda existem alguns vestígios na Quinta da Arealva.
É por isso que a fotografia que ilustra este texto tem de ser considerada uma preciosidade, com uma carrinha volkswagen a fazer publicidade ao "Vinho do Ginjal", na longínqua Vila de João Belo, em Moçambique, quando este ainda fazia parte do nosso território ultramarino...
A publicidade não engana (até rima...): «Se aprecia bom vinho prefira Ginjal, é do melhor que produz Portugal.»

domingo, novembro 19, 2006

Dores do Povo Português


Este ano tem sido um ano muito proveitoso para mim, especialmente por ter ficado a conhecer algumas partes ocultas de pessoas que me eram relativamente próximas.
Percebi que somos realmente um povo dorido (e nem estou a falar dos frequentadores crónicos dos Centros de Saúde do nosso país...), que sofre muito, da maneira mais parva e estúpida...
Além das dores nas costas, das dores de cabeça e de dentes... sofrem especialmente de dor de Corno e de dor de Cotovelo...
Este "povinho dorido" consegue transformar a sua pobre vidinha numa encruzilhada, refém da inveja, da hipocrísia, do cinismo e do despeito, em relação aos outros.
Uma das frases mais secas e brilhantes, que li, sobre este tipo de gente, foi dita por José Miguel Júdice, numa entrevista ao extinto e brilhante "DNA", de Pedro Rolo Duarte, de 22 de Abril de 2005. Ele dizia assim:
«Nós gostamos de dizer mal pelas costas e bem pela frente. Nós gostamos de ser amigos de toda a gente e de não gostar de ninguém. Nós gostamos de ser manhosos e, passe a palavra, gostamos de ser merdosos. E eu não gosto disso. É um lado da alma portuguesa que me irrita profundamente.»
A mim também me irrita profundamente, José Miguel Júdice, mas temos de levar com eles...
Este texto está ilustrado com o "Segredo", uma bonita escultura do mestre Lagoa Henriques.

sábado, novembro 18, 2006

O Teatro de Romeu


O Movimento Associativo de Almada escolheu o Salão de Festas da Incrível Almadense para evocar a vida e obra de Romeu Correia.
Alexandre Castanheira foi o guia perfeito da viagem efectuada desde os seus tempos de menino no Ginjal até aos seus últimos tempos, com a utilização de textos da sua autoria e de amigos do mundo das letras.
No final o Cénico da Incrível interpretou dois quadros de uma das suas peças, para satisfação de todos os presentes.
Esta excelente interpretação foi ao encontro das palavras de Fernando Barão, que levantara a questão de os grupos de Almada não levarem aos palcos as peças de Romeu. Questão reforçada por Alexandre Castanheira e por Carlos Alberto Rosado, que lançaram o repto de 2007 ser o ano do Teatro de Romeu Correia em Almada, com a exibição de várias peças da sua autoria pelos actores e encenadores do concelho.
Esta homenagem foi ilustrada com uma exposição de fotografias, recortes de jornais, capas de livros, cartazes de peças exibidas e também de uma verdadeira peça de museu: a cópia do auto de apreensão do seu primeiro livro de contos, "Sábado Sem Sol", pela PIDE (apesar dos seus esforços só apreenderam cinco livros...) nas bibliotecas da Academia e Incrível Almadense, que ilustra este texto.
Nota: A presença dos familiares directos de Romeu (filha, neto e genro) nesta evocação merecida contrastou com a ausência de qualquer elemento em representação do Município. Não deixa de ser triste a forma como os nossos autarcas tratam a memória de Romeu, tão bajulado e utilizado politicamente em vida, pela mesma força política que agora prima pelo silêncio e pela ausência...

sexta-feira, novembro 17, 2006

Romeu Correia Homenageado em Almada


No dia em que se comemora a data do nascimento de Romeu Correia (17 de Novembro de 1917), três colectividades de Almada - Incrível Almadense, Academia Almadense e Farol -uniram-se para homenagear o almadense, que melhor soube transpor para o papel as histórias da sua terra, como romancista e dramaturgo.
Claro que a vida de Romeu não se resumiu ao mundo literário.
Foi um grande desportista, que fez parte de uma geração fantástica de atletas almadenses, donde se destacaram Francisco Bastos e António Calado, ambos campeões, recordistas nacionais e atletas internacionais. Foi um grande associativista, com uma predilecção natural para a sua Academia. Foi um democrata assumido, mesmo quando tal era proibido. E foi sobretudo um grande apaixonado pela sua terra.
A fotografia que ilustra este texto foi tirada no miradouro, onde hoje se encontra o elevador. Lugar onde o ouvi contar histórias maravilhosas sobre as suas aventuras de rapaz no Ginjal...

quinta-feira, novembro 16, 2006

Fonte da Pipa


A chuva que continua a cair de Norte a Sul, deu-me vontade de falar de um monumento do século XVII, na zona do Ginjal, construído para aproveitar uma das nascentes de água que se perdiam, misturadas com o Tejo. Estou a referir-me à Fonte da Pipa.
A Fonte da Pipa fica situada entre o Ginjal e o Olho de Boi, junto ao espaço ajardinado onde foi erguido o moderno elevador, à beira rio.
O chafariz reconstruído recentemente foi inaugurado em 1736, no reinado de D. João V.
Apesar da sua proximidade com o rio, a água tinha muita boa qualidade e além abastecer a vila de Almada, dava apoio a muitos dos navios que aportavam em Lisboa e enchia ainda o lavadouro público, na sua parte inferior.
Hoje é apenas um monumento, já sem a função de chafariz de quatro bicas...

terça-feira, novembro 14, 2006

Nevoeiro no Ginjal


Pois é, parece que o nevoeiro veio para ficar, para as bandas do Ginjal...
Dias como o de hoje, com neblina de manhã à noite, são raros. Normalmente quando se aproxima a hora do almoço, o Sol enche-se de brio e expulsa o nevoeiro para longe... Depois brilha com mais intensidade, como se gritasse vitória perante o "feitiço" cinzento...
Quem costumava aproveitar estes dias fechados era o meu amigo Fernando, quanto ainda tinha a sua ourivesaria em Cacilhas. Pegava na máquina fotográfica e saia para a rua, na direcção do Cais do Ginjal, à procura de bons motivos para disparar a sua "reflex", agradecido pelos "efeitos especiais" destes dias mais sonoros, graças às buzinadelas de aviso dos Cacilheiros - ainda sem radar- durante as travessias do Tejo...

segunda-feira, novembro 13, 2006

Da Azinhaga à Babilónia



A proximidade do Natal faz com as principais editoras apostem no lançamento de novas obras dos seus escritores mais mediáticos.
António Lobo Antunes e José Saramago não escapam a estas encomendas, que significam mais vendas e mais dinheiro (sim, nisto dos livros, também há quem ganhe bom dinheiro...) por se tratar de uma época de consumismo, em que há o bom hábito de se oferecerem prendas.
Apesar de se tratarem dos nossos escritores mais próximos da Lua, estou à vontade para dizer que ambos estão longe de serem os mais lidos (apesar do seu sucesso nas vendas) no nosso país.
Digo isto porque conheço a sua prosa difícil, mesmo para leitores experimentados, o que me leva a imaginar os "amadores" na leitura a ficarem-se pelas primeiras páginas e a espreitar o fim...
A explicação do sucesso das suas vendas? Os seus livros são uma espécie de "bibelot", que segundo consta (provavelmente nas revistas rosa frouxo...) dá algum estatuto intelectual ter na estante...
Embora ache a literatura de Lobo Antunes superior, estou mais inclinado para comprar "As Pequenas Memórias", que "Ontem não Te Vi na Babilónia", por uma razão simples, gosto bastante deste género de livros de memórias. E este tem a particularidade de que nos ajudar a conhecer um outro país, dos anos trinta, quarenta.
Pelo que tenho lido nas críticas e também nos "doces" pré-publicados, o doutor António está a caminhar para terrenos perigosos, com demasiados espelhos á sua volta. Nem mesmo o facto de colocar Pragal no mapa, me desperta curiosidade de espreitar Babilónia...

sexta-feira, novembro 10, 2006

Outra Placa Intimidatória...


Não gosto nada de placas intimidatórias e tenho algum medo do que possa vir a seguir...
Talvez sejamos mesmo proibidos de passear pelo Ginjal, porque é mais fácil fechar o passeio ribeirinho ou colocar um guarda, que "lavar a cara" (mesmo que fosse à gato...) e cuidar das casas em ruínas abandonadas.
Todos aqueles que conhecem o Ginjal sabem que as suas casas e armazéns têm a altura de apenas dois pisos (rés de chão e primeiro andar). Pela minha experiência pessoal (ainda ontem passeei pelo velho paredão do Ginjal...) noto que há exagero do Município neste acumular de placas ao longo do passeio ribeirinho.
Não pretendo branquear esta situação, cuja degradação começa a ser bastante preocupante. Mas mantenho, que este perigo de desmoronamento é relativo, e poderia ser rapidamente solucionado com os mesmo tijolos e cimento, com que construiram um muro, nos lugares em pior estado...

quinta-feira, novembro 09, 2006

Muitos Meses Depois Fez-se um Muro...


Toda a gente sabia que uma comunidade romena (composta por profissionais da mendicidade) tinha ocupado alguns dos armazéns abandonados do Ginjal...
Neste grupo de "toda a gente" encontrava-se o Município, a Junta de Freguesia, as Autoridades Policiais (PSP e Polícia Marítima), os Bombeiros, e claro, a população almadense...
Finalmente, muitos meses depois, as Autoridades abriram os olhos e resolveram por termo a esta situação degradante (como devem imaginar, as cerca de seis dezenas de emigrantes viviam sem condições mínimas de habitabilidade, já que água, luz ou saneamento só existiam em sonhos. A única companhia certa que tinham era o lixo que já por ali estava e o que trouxeram e fizeram...).
Segundo as notícias de hoje, tratou-se de uma acção conjunta entre o Município e as várias autoridades, acabando com a transfiguração do Ginjal em "vila" de emigrantes clandestinos. Os "ocupas" foram identificados e convidados a partirem para outras paragens, num espaço de vinte dias...
Claro que esta viagem anunciada pode ser apenas de alguns quilómetros (ou nem tanto...), porque barracões não faltam por ai, ao abandono... e daqui a vinte dias já ninguém se lembra de nada.
Feio, feio é o muro que foi erguido no Ginjal, a lembrar outros muros da vergonha...

terça-feira, novembro 07, 2006

Outono em Cacilhas


Esta fotografia não passa de um "postal" festivo (dia 1 de Novembro), em que as pessoas aproveitam para sair à rua, para ver ou acompanhar a procissão da Nossa Senhora do Bom Sucesso.
A presença de vendedores em Cacilhas faz com que juntem o útil ao agradável e comam uma fartura ou uma dúzia de castanhas assadas, admiradas com o cheiro a povo que invade a antiga Rua Direita e o Largo de Cacilhas neste dia.
Claro que dias não são dias... no domingo seguinte, volta tudo à pasmaceira do costume. O Largo volta a contar apenas com a meia dúzia de pessoas apressadas para apanharem o cacilheiro ou o autocarro, porque o Cais de Cacilhas volta a ser apenas um ponto de passagem...

sábado, novembro 04, 2006

Arte com Sabor em Cacilhas


O aparecimento de um novo café em Cacilhas, com um nome já de si bastante apelativo (Café com Letras), no começo de 2003, marcou o início de várias actividades culturais como: exposições, tertúlias, colóquios, apresentações de livros, debates, até se chegar às sessões animadas de "Poesia Vadia".
Embora isso faça comichão a algumas pessoas, o sucesso destas iniciativas está associado a uma senhora, cujo nome era praticamente desconhecido no panorama cultural local (Ermelinda Toscano). Ela conseguiu fazer em meia dúzia de meses o que alguns programadores culturais não fazem em anos...
Fizeram-se coisas muito bonitas naquele espaço, sem qualquer dúvida. A que considero mais brilhante foi a edição da colecção INDEX POESIS, "Uma Dúzia de Páginas de Poesia", um pequeno caderno, que marcaria a estreia poética de dezenas de autores. Esta colecção chegou ao número 47, uma coisa admirável, se pensarmos que estamos a falar num espaço de apenas dois anos.
Por razões que não interessa dissecar, o entusiamo foi arrefecendo e o "Café com Letras", acabou mesmo por fechar.
Foi bom o antigo café ser substituído por um outro café (" Sabor & Art") e não por outra coisa qualquer.
Melhor ainda, é o facto de os novos gestores do espaço terem demonstrado vontade de voltar a "explorar" a vertente cultural, tão bem sucedida durante algum tempo, por aquelas bandas.
A entrada em cena vai começar já no próximo dia 25 de Novembro, com a tão popular sessão de "Poesia Vadia".
Espero que este regresso seja um sucesso, porque Cacilhas precisa de mais portas abertas à Cultura.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Nossa Senhora do Bom Sucesso


O primeiro dia de Novembro é uma data especial em Cacilhas.
Isto acontece praticamente desde o fatídico Terramoto de 1755, quando as águas do Rio Tejo avassalaram todo o povoado, deixando atrás de si um rasto de destruição e morte. Segundo as lendas locais, o rio só se acalmou quando alguém se lembrou de ir buscar a imagem da Nossa Senhora do Bom Sucesso ao que restava da Capela e mostrá-la ao Tejo. Os sobreviventes ao verem o rio voltar ao seu nível normal sentiram que tinha acontecido algo de divino e associaram de imediato esta mudança repentina a um Milagre.
Como prova de reconhecimento pela acção apaziguadora da Santa, os cacilhenses prometeram realizar todos os anos uma procissão que percorreria as principais artérias de Cacilhas.
Apraz-nos dizer que, 251 anos depois, a tradição mantém-se. E além da habitual procissão que percorre as principais ruas da Freguesia, a Nossa Senhora do Bom Sucesso desce até à margem do Rio, para abençoar as suas águas. De seguida o Largo de Cacilhas acolhe uma celebração religiosa comemorativa.