domingo, agosto 30, 2009

Fados do Ginjal


No meu próximo livro sobre Cacilhas falo dos retiros que existiram no Ginjal, que acolhiam fadistas lisboetas que adoravam a boémia e os petiscos da Outra Banda...

Sem saber o que escrever para o "Debaixo do Bulcão" (nº 36, Julho), fanzine de poesia de Almada, escrevi:


Fados no Ginjal

Todas as sextas-feiras eram santas e de fé
Para aquele grupo de amantes de cigarras
Que se juntava nos bancos do Cais Sodré
Com saudades do trinar das guitarras

Antes da meia-noite rompiam para o cais
Preparados para entrar na noite fria
Deixando para trás os cantos habituais,
Do Bairro Alto, Alfama e Mouraria

Assim que se juntavam no porão
Começavam logo a animar o pessoal
Troteando pedaços de fado e de canção
Transformando a viagem num arraial

De todas as vozes quentes e afinadas
A única que destoava era a do Xico Maravilhas
Que deixava escapar grandes gargalhadas
Com as suas caldeiradas de Cacilhas

Assim que viam aproximar-se a luz do Farol
Interrompiam o canto e a diversão
Davam descanso à voz de rouxinol
Debaixo dos aplausos de admiração

Sabiam que os retiros quentes do Ginjal
Esperavam-nos de braços abertos
Como se aquelas sextas fossem um ritual
Onde havia de tudo, até encontros secretos


Luís Milheiro

quinta-feira, agosto 27, 2009

A Pintura da Capa


Escolhi para capa do meu próximo livro sobre Cacilhas (que deverá ser lançado no fim do próximo mês), este óleo de Alfredo Keil, com a Praia das Lavadeiras, que banha o famoso restaurante, "Atira-te ao Rio"...

segunda-feira, agosto 24, 2009

Somos Pouco Exigentes

De uma forma geral somos pouco exigentes connosco e com os outros.

Esta é a explicação mais fácil que encontro para explicar a forma como apoiamos a manutenção no poder (sim, mesmo que seja de mãos nos bolsos, não votando... aliás essa deve ser a principal ajuda que esta gente deve ter...) de Alberto João Jardim, Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras, Isaltino Morais, Mesquita Machado, a todos os chamados "dinossauros", que acham perfeitamente normal estarem há mais de vinte anos à frente de uma Autarquia.
E todos eles dizem: «fomos nós que fomos escolhidos pelo povo, por isso temos toda a legitimidade para governar como achamos melhor.»
Terão mesmo? Têm. E a culpa é de todos os tipos que viram as costas aos problemas, que têm a lata de dizer que a melhor arma de protesto é a abstenção.
Infelizmente essa é a arma que tem mantido esta gente no poder, que ano após ano, vai adquirindo novos tiques ditatoriais.
Por isso continuem a esfregar as esquinas, com as mãos nos bolsos e os olhos postos no voo dos pombos (aí sim, pode vir surpresa...).
Toda esta prosa, porque tenho dificuldade em perceber que se coloque um tapete de alcatrão novo e depois se espere (já passaram três semanas...) o tempo que lhes apetecer, para acabar o serviço, enquanto as crateras vão crescendo à volta das tampas de esgoto. Esta fotografia é de Almada (quase frente à Escola Emídio Navarro), mas acaba por ser um retrato do nosso país. E também é uma forma de "publicitar" o trabalho da Autarquia, desta vez real, sem maças e sem louras...

sexta-feira, agosto 21, 2009

A Publicidade Engana...

A Autarquia tem colorido o Concelho com cartazes que fazem pensar que Almada é mesmo uma daquelas terras de "encher o olho", óptimas para viver...

Claro que nós estamos fartos de saber que a publicidade nunca foi tão enganadora como agora, raramente o que parece é...
E Almada também não é isto. Nós que vivemos cá sabemos muito bem que nos estão a oferecer uma coisa que tanto pode andar pelo "conto do vigário" como pelas "estórias de princesas", depende sempre da nossa perspectiva...
Este "Experimente Almada" do cartaz (nem falta o farol vermelho...) tem que se lhe diga, até porque nem sequer produzimos maçãs. Será que o anúncio foi feito a pensar nas nossas "Evas"?

sexta-feira, agosto 14, 2009

Quando Almada Crescia...

Não sei se era bem assim, em 1970 tinha apenas oito anos e estava sossegado nas Caldas da Rainha, talvez a brincar...

Pelas minhas contas tinha atravessado o Tejo uma única vez (em Lisboa, já o conhecia de o olhar da ponte de Santarém...), para visitar o Cristo-Rei e passear de Cacilheiro, como qualquer turista que se preze...
Esta notícia quase "publicitária" fez parte da edição quase especial do "Jornal de Almada", de 20 de Junho de 1970, dedicada aos festejos do S. João.
Olhando para os números, há por ali coisas que soam a exagero, mas...

terça-feira, agosto 11, 2009

A Política e a Poética

Uma das coisas que acho curiosas na propaganda eleitoral local é a opção socialista, por imagens revestidas de alguma "poética".
A mensagem de quem governa Almada é publicidade pura nos muitos cartazes que estão espalhados pelo concelho, e muito afirmativa, nós isto, nós aquilo...
Os socialistas escolhem frases como esta:
«Numa terra amada, o coração da cidade tem de bater mais forte».
Não sei se andam aqui influências dos resultados de Manuel Alegre nas presidenciais, ou se é apenas a vontade de ser diferente.
Almada é terra de poetas, mas não sei qual é o efeito destas mensagens nos almadenses...

sábado, agosto 08, 2009

A Generosidade de Raul Solnado

Raul Solnado deixou-nos, hoje.

A sua presença em Almada, a 6 de Junho de 2007, na "Tertúlia do Dragão Vermelho", a convite da SCALA - Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada, uma pequena associação almadense, explica um pouco a sua grandeza como ser humano.
Este foi o texto que escrevi há dois anos, para ser distribuído pelos tertulianos, que tem o autógrafo do Raul para o meu filho...

terça-feira, agosto 04, 2009

Os Palhaços e o Comércio

Há formas de protesto e de publicidade com alguma originalidade, como é o caso do conhecido pronto a vestir, "Venâncio", no coração de Almada.
Os "manequins palhaços" não estão sós na rua, têm a companhia de um texto de Charlie Chaplin.
Compreendo o desespero de quem tem uma casa de comércio aberta e sente que já nem sequer trabalha para aquecer...
Mas as causas dos seus problemas são mais antigas que as alterações de trânsito ou a passagem do Metro.
Claro que só se fizeram sentir com a abertura do centro comercial "Almada Fórum", quando a maioria dos habitantes do concelho, que vivem nos subúrbios, deixaram de sentir necessidade de se deslocarem ao centro da cidade para fazerem compras. Alguns mais teimosos ainda continuaram a vir ver as "vistas" a Almada. Só se renderam com as obras do Metro e as dificuldades de se circular no eixo principal da cidade.
Mas o verdadeiro problema é que no centro de Almada, quase que só vivem pessoas idosas, reformadas e sem poder de compra e paciência para andar às compras nas lojas locais.
Se os jovens almadenses nos últimos vinte anos tivessem tido a oportunidade de permanecer na sua cidade, com habitações a preços mais acessíveis, a realidade seria diferente...
Infelizmente, à boa maneira portuguesa só nos lembramos de "Santa Bárbara" quando chove...
Mas é óbvio que se tem de fazer alguma coisa, apesar dos cartazes bonitos de propaganda do Município, espalhados pela cidade, não há cidade com futuro sem vida e sem jovens à sua volta.

domingo, agosto 02, 2009

O Farol Vermelho

Outra das polémicas que tem visitado as mesas de café e as esquinas de Almada é a cor do Farol de Cacilhas, inaugurado a 18 de Julho.

A questão que todos levantam é o porquê do vermelho e não o verde, que toda a gente conheceu até finais da década de setenta do século passado?
Os responsáveis defendem-se com a existência de escritos em que se fala que a sua cor inicial era verde (na cúpula) e vermelho (na torre). Mas o povo que sempre o conheceu verde (praticamente ao longo de todo o século vinte) não vai em "histórias" e não perdoa a mudança, associando a escolha à "cor política" que governa Almada há mais de trinta anos.
Embora eu goste da cor, penso que se o objectivo era manter a tradição, o verde fazia mais sentido. E era uma boa maneira de se acabar com os olhares desconfiados, que não aceitam que o Farol seja usado para salientar a "Cidade Vermelha"...

sábado, agosto 01, 2009

E Esta?

Chego de férias e descubro uma série de novidades na minha Cidade.
A maior de todas foi o Município ter-se "rendido" à contestação dos comerciantes, que colaram novos cartazes nas montras: «Srs Autarcas, assim estamos todos a perder o comboio. Devolvam a vida à Cidade, reabram o trânsito no eixo canal.»
Não é só Sócrates que está mais sensível, a poucos meses das eleições. Maria Emília de Sousa também...
Pelos vistos o trânsito voltou a abrir-se no centro da cidade e foi criado um estacionamento alternativo para os clientes do comércio local, nas antigas instalações da Citroên, na avenida Afonso Henriques.
Não há nada como um ano de eleições, especialmente na sua recta final, para os protestos se fazerem ouvir...
E não há crise que resista a tanto charme e boa vontade.