Uma das coisas que a pandemia nos roubou foi o convívio próximo com os amigos.
Embora tenha feito parte de várias tertúlias ao longo dos anos, nos últimos tempos só era assíduo a uma, a "Tertúlia do Bacalhau com Grão", que ocupava a maior mesa do Restaurante Olivença, às segundas-feiras (que fica na rua com o mesmo nome, em Almada, junto ao mercado).
Um dos amigos que conhecia apenas um pouco mais que de vista, era o Jaime Soares, que todos tratamos por Jaiminho, que fora um dos grandes andebolistas do Almada e também o primeiro presidente da Junta de Freguesia de Almada, pós-Abril e que começou a trabalhar cedo demais no estaleiro Parry & Son, em Cacilhas.
A partir de certa altura o Jaiminho começou a sentar-se ao meu lado e começámos a cultivar uma amizade e um respeito mútuo que perdurará no tempo, por comungarmos dos mesmos princípios e sermos muito frontais na nossa forma de estar e de nos relacionarmos com os outros. Nem mesmo a sua surdez foi um obstáculo para esta boa camaradagem tardia e genuína.
As coisas que eu aprendi sobre a história recente de Almada, com os relatos das vivências do Chico, do Orlando e do Jaiminho, nas conversas bastante animadas no nosso canto da mesa, graças às suas memórias de elefante e ao seu companheirismo.
Estava a arrumar fotografias quando descobri este "post-it", que escolhi para "ilustrar" estas palavras e está patente no Museu Naval de Almada.
É o testemunho do Jaiminho sobre o "seu primeiro fato", comum à maioria dos jovens operários almadenses...
(Fotografia de Luís Eme - Almada)