Em 1904 houve um Português que quis imitar Júlio Verne, avançando no futuro, até ao ano 2000. Estou a falar de Mello de Mattos e da sua obra "Lisboa no Ano 2000 - Um Olhar Para o Passado a Olhar Para o Futuro", publicada em 1904 e reeditada em 1999, com curiosas ilustrações, como a que acompanha este texto, em que a composição tem o nome de Seixal.
Quando o "Pedrrinho" falou do seu sonho de viajar comodamente de Metro até Lisboa, sem ter de mudar de transportes, lembrei-me logo deste livro.
Não vou relatar todas as peripécias descritas nesta arrojada aventura de engenharia, que permitia atravessar o Tejo através de um túnel, construído debaixo de água (dos 6.327 metros, 2.200 eram debaixo do rio...) olhada de lado pelos jornais (que já não existem: "O Século", "Arauto", "Progresso" e "Novidades"). Vou sim dizer-vos que na imaginação de Mello de Mattos, no dia 5 de Junho de 1994, foi inaugurada solenemente a Estação Subterrânea de Lisboa das Linhas do Sul, após cinco anos de obras (um tempo recorde... se pensarmos no túnel de Santa Apolónia...).
Nesta estação havia comboios de cinco em cinco minutos, para ligação de Lisboa à Outra Banda e também à Estação Subterrânea vinham ter os comboios de luxo do Alentejo.
Embora a Margem Sul não tenha tido o desenvolvimento anunciado, nem tão pouco comboios (só agora se avança com o Metro, cada vez menos consensual...), aconselho a leitura da obra, pela descrição pormenorizada de todas as alterações na Capital e também pelas ilustrações.
23 comentários:
Muito bom. Lembro-me tambem do ex. Ministro Mexia defender o túnel como melhor alternativa a uma ponte entre o Barreiro e Chelas.
Era uma visão de futuro arrojada para a época, não poluente, amiga do ambiente, confortável, rápida,"capaz de atrair investimentos e elites", acessivel e que não substituia os barcos. Era uma alternativa de transporte. Mas o que era essa solução comparada com a criatividade do traçado deste singular Comboio 3V/ST que designam por MST?
O que era isso comparado com o futuro que só está agora um metro de Almada?
Esse futuro de 1904 era um século atrasado.
Viva o ilusório e falso futuro que a CMA nos quer vender!
Lembro-me que quando se começou a falar de instalar o metropolitano em Almada, a primeira solução defendida era a extensão do Metro de Lisboa à margem sul, pela Ponte 25 de Abril.
No entanto, o Governo da altura entendeu que era mais adequado fazer passar por ali o eixo ferroviário Norte-Sul, e assim foi feito.
Entretanto, também ouvi falar (e depois deixei de ouvir falar) noutras soluções, como o túnel da Trafaria, ou mesmo o da Margueira...
Que é feito dessas propostas, alguém me sabe dizer?
Vitorino
Pois é.
Assim, temos um metro independente.
Temos o "nosso" metro.
Que orgulho!!!
Idade média? Da pedra?
Nem sei o que pensar. O melhor é ficar assim.
Mello de Mattos escreveu 5 de Julho de 1994, como neste país tudo acontece com "algum" atraso, mais 20 anos e é obra!
Um abraço*
Eu também achava que não era uma solução complicada, em pleno século XXI. Mas depois de ver a confusão que tem dado o túnel rente ao Tejo, que leva o metro até santa Apolónia, já não sei nada...
O que sempre achei estranho, Residente, foi durante o século XX o comboio nunca ter chegado a Cacilhas.
Pois foi, Vitorino, e era uma solução mais leve e mais limpa.
Mas, há sempre um mas à nossa espera...
Dá de facto que pensar, Reporter...
Era bom mas não, em 2014, ainda não haverá ligações directas, Maria...
Aqui nem com a teoria dos 20 anos nos safamos...
Orgulhosamente sós!?! (faz-me lembrar coisas más esta afirmação. Mas é assim o Metro deles (da CMA e da CDU), já duvido que seja dos almadenses... tantas são os descarrilamentos do projecto que insistem em levar avante (bem apropriada esta palavra!!).
Espectacular estas coisas que vais descobrindo e nos trazes aqui. Obrigada Luís.
Pena é que esta imagem não tenha passado de uma simples visão... mas que era uma solução óptima, assim parece. A quando do designdo projecto da "Manhattan de Cacilhas" falou-se muito em implementar uma solução deste tipo mas ficou no esquecimento e dificilmente será recuperada (não percebo porquê, mas enfim...).
Um abraço.
caro luís, na minha terra não há nenhum túnel e comboio só a 2 km do centro e poucos autocarros e nada de metro... definitivamente, sou uma rapariga da aldeia, apesar do sítio ter categoria de cidade há quase 300 anos... um beijinho.
Parece que o Metro é mais do "barraqueiro" que nosso, Minda... e eles preferem a ligação ao comboio (outro menino dos seus olhos...) que a Cacilhas...
Há cem anos já se pensava em "grande"...
Que bom que é morar no campo, Alice... quase longe da civilização...(como deves calcular, fiquei curioso em saber qual é a tua cidade...)
Pensemos então num habitante de Odivelas em pleno dia de agosto, quer ir à praia, e entra na sua estação de metro e em 45 minutos maximo, está na praia na Costa fazendo apenas uma ou duas mudanças de linha,tal seria possivel com uma real junção de linhas, basta ver as extenções das linhas noutros paises. Alguem reparou tambem na barbaridade do novo temrinal de bacos dos cais de sodré que custou milhoes é super desconfortável, obriga as pessoas a apanharem chuva quando saiem, e ainda por cima não suporta os ferrys e automóveis?
Caro Luis Eme,
Realmente isso é que era arrojo para quem teve a visão de, há um século inteiro atrás, pensar naquilo que os 'visionários' do nosso tempo não conseguem..
Deve ser mesmo um bom livro.
Enfim, 'Back to the future'..
Ah, e já agora não se podia pôr uma cunha para que essa linha chegasse a Sesimbra?.. :)
Bom blogue, parabéns.
se não o mais, um dos mais interessantes blogs que tenho visitado.
A propósito de outra banda, toma lá, Luís, um poemazito dos meus:
A PONTE (A PONTE...PRONTO: SALAZAR)
salazar grande estadista era também um tipo esperto:
está-se mesmo a ver que quando construiu a sua ponte
do pragal até alcântara era só para bater certo
com o nome árabe de alcântara, que significa a ponte
se não fosse a ponte a margem sul era hoje um deserto.
se não fosse a ponte não viamos lisboa tão defronte.
louvemos pois salazar, o homem perto
da perfeição: não sei como há quem defeitos lhe aponte.
e aproveitemos para atravessar a ponte várias vezes:
ora de cá para lá, ora de lá para cá.
é bela a vista da ponte: faz-nos esquecer os revezes
da vida e da portagem que nos coube em sorte e que há
só para gratificar a lusoponte pelo favor que nos faz nos meses
de agosto, em que não desembolsamos. que sobre para as férias. oxalá!
António Vitorino
(escrito muito antes do ministro ter verificado que a margem sul é "um deserto"... e, aliás, já publicado numa edição do Debaixo do Bulcão)
Vili
Eu só frequento bons blogs...
Só que acontece que eles não fazem as coisas a pensar no benefício das populações. Primeiro costumam pensar no próprio bolso...
Quando pensamos nestas coisas, percebemos o que se tem perdido nestes últimos trinta anos, para não ir mais longe, Pedrrinho.
É verdade, grande arrojo, Vili.
Pois, Sesimbra é outro embróglio...
Agradeço as palavras e a visita.
Obrigado pelas palavras simpáticas "Triliti Star".
Aparece sempre.
Gracias pelo poema, Vitorino.
E bem oportuno, graças ao ministro engraçado.
Enviar um comentário