domingo, fevereiro 04, 2007

Salvar que Vidas?


Tinha pensado não trazer o referendo da despenalização do aborto para o "Casario".
No entanto é muito difícil ficar calado, com todas as "bombas" que têm sido lançadas por aí, inclusive por pessoas aparentemente acima de qualquer suspeita.

O papel da igreja neste últimos tempos nem sequer me merece qualquer comentário. Como o Carnaval está próximo, as frases do padre que deixará de fazer funerais a quem votar "sim", entre outras, do mesmo teor, ditas, inclusive, pelo Cardeal Patriarca, só poderão ser encaradas como brincadeiras de mau gosto.
Agora a carta que foi colocada nas mochilas das crianças dos infantários do Centro Paroquial de Nossa Senhora da Anunciação de Setúbal, é grave demais para ser silenciada. Não sei onde está a decência e o respeito pela individualidade de cada um daqueles pais, sem falar nas crianças, que desde muito cedo, aprendem a questionar, quando se distribuem cartas onde um pretenso feto confronta a mãe com a sua própria morte, com frases como esta: «Mãe, Como foste capaz de me matar?...»

Claro que não é só a despenalização que está em causa neste referendo. Vai-se também referendar o direito das mulheres serem assistidas com os cuidados médicos adequados no Serviço Nacional de Saúde.

É por isso que estranho que os defensores da vida "ignorem" que esta lei permite, que as mulheres possam ser assistidas nos hospitais até às dez semanas, nas condições que devem ter direito, sem correrem riscos de vida ou sem voltar a ter filhos (como acontece tantas vezes...).
Talvez prefiram continuar a alimentar a rede de "parteiras" clandestinas (com e sem diploma), que auferem honorários quase de futebolístas e trabalham em lugares sem as condições mínimas de assistência...
O cartaz que ilustra o texto é bem elucidativo: «Ainda está a tempo de salvar muitas vidas.» É importante que, quando se fala em vida, além das discussões quase científicas sobre o óvulo e o feto, se deixem as hipocrisias para trás e se pense na saúde das mães deste país.
É por isso que eu voto SIM.

14 comentários:

Maria disse...

Toda a campanha do não é uma hipocrisia pegada. É um apelo à ignorância. É uma mentira, porque o que está em causa é a DESPENALIZAÇÃO das mulheres que fazem abortos e não um apelo ao aborto.
Quem não quer, não é obrigada a fazer. Mas quem se vê nas circunstâncias, sempre terríveis, de ter de o fazer, então terá a garantia de que não é penalizada por isso.
Mais, o não defende mais do mesmo que já existe - aborto clandestino, negócio escuro, abortadeiras ou parteiras a ganhar o dinheiro que quiserem (e sem pagarem impostos), mulheres a morrerem porque fizeram abortos sem as mínimas condições de assitência médica e hospitalar.
E depois vêm com a história do zezinho a agradecer à mãe por não o ter ... etc. e tal que eu até me recuso transcrever, de tão horrível que é.
Meus senhores, acabemos com a hipocrisia: toda a gente sabe que as vossas amigas, mulheres, filhas, mães etc. que decidiram abortar o fizeram nas melhores clínicas da Europa. De há muitos anos o fazem. E vão continuar a fazer.
É porque defendo a vida, contra a hipocrisia, é porque defendo a despenalização, contra a mentira, que vou votar SIM no dia 11.

Desculpa lá Luís, hoje é o segundo texto que escrevo sobre este tema, e o que eu queria mesmo era que não fosse necessário tê-lo escrito...

Alice C. disse...

Sinceramente, Luís, não sei quais serão os efeitos de uma campanha tão "assassina", como esta por parte dos defensores do não.

Algumas pessoas que conheço ficam com alergia a tanta mentira, mas há outras que ficam na dúvida.

Não há dúvidas de que é um desconsolo assistirmos a esta lenga lenga, que só prejudica a mulher, forçada a abortar, quase sempre em condições limites.

Minda disse...

Sou a favor do Sim, obviamente.
Por todas as razões que são apontadas e…
Porque sou pela dignidade humana, pelo direito a nascer-se desejado.
Porque o nascimento de uma criança deve ser um acto de amor e não uma imposição legal e, muito menos, uma irresponsabilidade assumida na sequência de um deslize.
Porque é preferível não tê-las do que mais tarde abandoná-las, vê-las sofrer e passar fome, por exemplo. Não será mais cruel e desumano, criminoso até, ter um filho sabendo que não se tem as condições mínimas (económicas, sociais, de saúde física ou psíquica) para prover ao seu sustento e assegurar-lhe uma vida com alguma segurança, carinho e qualidade?
Porque a maternidade deve ser consciente e ponderada, nunca uma forma resignada de acomodação por se temer julgamentos sociais e/ou religiosos, sou a favor do SIM.
Porque nenhuma mulher que interrompe uma gravidez o faz por prazer, quantas delas levadas a essa opção pelo companheiro que não quer esse filho indesejado (e, a propósito, porque ninguém fala da responsabilidade do homem no meio disto tudo?). Logo, praticar a IVG a pedido não significa liberalizar o aborto como se fosse um acontecimento banal que se pratica nas horas de ócio.
Sou a favor do Sim porque quero salvar vidas! As vidas dos milhares de mulheres que, todos os anos, morrem devido às sequelas do aborto clandestino apenas porque não lhes deram a hipótese, sobretudo devido a carências económicas, de serem assistidas e aconselhadas em estabelecimento de saúde adequado. Porque se o aborto deixasse marcas na testa, muitas das acérrimas defensoras do Não e carteiras bem recheadas, estariam marcadas e talvez deixassem de ser tão hipócritas.
Porque é uma injustiça continuar a penalizar as mulheres (mesmo que não esteja nenhuma na cadeia por ter praticado aborto, o certo é que o código penal condena-as e os julgamentos não são ficção, pelo contrário… são uma humilhação cuja barbaridade se acentua ainda mais depois de sabermos o sofrimento que já foi o acto de interromper a gravidez).
Porque os defensores do Não são mentirosos… em nenhum país o número de abortos subiu depois da despenalização: subiram sim, em termos estatísticos, o número de abortos realizados no sistema público de saúde porque deixaram de ser clandestinos. Mas, em termos globais, diminuem. E, principalmente, ganham-se muitas vidas… milhares delas, sim: as da mães que não morrem e de muitos desses filhos que, tivessem as mulheres recorrido ao lugar certo, sem medo ou vergonha do estigma social e da penalização criminal, tivessem sido aconselhadas, apoiadas na sua decisão, se calhar algumas optariam por ver o seu filho nascer.
Sou a favor do SIM por tudo isto e muitas mais razões que me apetecia falar mas como o texto já vai longo, fico-me por aqui. Sou a favor do sim contra a hipocrisia e pela vida. Pela vida SIM.

António disse...

Não importa se sou a favor do sim ou do não mas, pela minha postura, não é difícil perceber.
Mas venho aqui injectar a minha indignação pela estupidez intelectual que muita gente que, como diz o Luis, estaria acima de qualquer suspeita. Estaria, porque depois disto, essa gente merece ser, no mínimo desprezada. No mínimo.
Será que esses energúmenos não sabem o mal que andam a fazer?
Não acredito. Assim como não acredito no Pai Natal.
É demais ouvir a defesa do "não". Não só mas principalmente.
Gente estúpida, no mínimo.
Não queria induzir em erro quem quer que fosse mas, pelo que se tem visto/ouvido/lido, o "não" está mal sustentado. Pateticamente sustentado.

Luis Eme disse...

Concordo inteiramente contigo, Maria.

Luis Eme disse...

Tens razão Alice, esta campanha "radical" dos conservadores pode impressionar os indecisos do costume...

A ver vamos.

Luis Eme disse...

Concordo inteiramente contigo Minda.

Luis Eme disse...

Não sabia que era possível todos estes defensores do não, descerem baixo, Reporter.

Se bem que todo este radicalismo pode ser uma estratégia de vitória, ditada por alguma dessas agências de comunicação, especialistas em eleições.

Quando ouvi a Laurinda Alves dizer na TV que votar NÃO é moderno... lembrei-me logo do CDS ser um partido "sexy".

Como a estupidez continua a não pagar imposto, vamos ter direito a mais algumas "pérolas", nestes últimos dias, para variar.

Maria disse...

As pérolas continuam a passar na rtp1 hoje, noutro debate em que preciso de tomar sais de fruto para aguentar os do não...
Como é possível haver tanta gente burra a debitar em directo na tv estatal?
Não se aguenta!

Luis Eme disse...

E vão continuar...

Só há uma solução, desligar o botão...

Flôr disse...

Depois de ouvir dizer que a educação sexual deve ser no sentido da castidade, fiquei um pouco apreensiva.
Então..."e as crianças, Senhor?" (voltamos ao "por obra e graça do Espírito Santo?).
Pensei que castidade era para os padres e freiras (voto de castidade).
Faz-me lembrar anjos...puros e castos...

Já optei por mudar de canal, antes que perca a minha sanidade mental.
Beijinho

Luis Eme disse...

É complicado Ana, ouvem-se insanidades quase dos séculos XVI, XVII, tempos de ouro da imquisição...

Não sei se é impressão minha, mas sinto que as estações de televisão que vejo (SIC e RTP), estão ligeiramente inclinadas para o NÃO.

Não sei porquê...

Isabel Victor disse...

Esgotaram-se-me as palavras mas não os argumentos !

Até Domingo, dia do referendo, vou andar vestida de SIM ! Pela dignidade que a VIDA nos merece e o AMOR que a gera ! Assim, vestida de SIM ...

Luis Eme disse...

O mais curioso, é só ter recebido comentários de "Sim's".

Apesar de tudo, não deixa de ser animador, Isabel.