Este título é de um conto-crónica, que escrevi e coloquei na gaveta, junto de dezenas de primos, que estão sempre a espreitar, mal ela se abre...
Vou tentar resumi-lo, sem vestir demasiado as personagens, claro...
É mais um retrato deste nosso país, cheio de gente triste, que não gosta do que faz e que, geralmente, gosta de se vingar em quem lhe aparece à frente no balcão, tornando-lhes a vida ainda um pouco mais difícil, nas filas enormes que crescem nas conservatórias, nas finanças, nos centros de saúde, nos centros de emprego, etc.
Foi por isso que o narrador ficou deliciado ao olhar a funcionária, quase invisível, que caminhava com grande leveza, quase sem tocar no chão e sem incomodar a leitura dos utentes, demasiado ocupados para repararem nela, no interior da biblioteca municipal.
O tal tipo que se arma em narrador, cada vez mais um buscador de diferenças, reparou em quase tudo: no seu cabelo apanhado, nos seus óculos, na sua roupa discreta, mas sobretudo, na maneira como ela agarrava os livros, aliás abraçava...
Era por isso, que sempre que precisava de uma informação qualquer da biblioteca, dirigia-se a ela no balcão. Sabia que a senhora era capaz de ir quase ao fim do mundo, para lhe satisfazer o pedido. E não era pelos seus lindos olhos, era apenas porque gostava de ajudar os outros...
É tão raro encontrar alguém assim, sem estar com a roupa do avesso, e com a cara ao contrário, neste país em que quase toda a gente finge ignorar o verdadeiro significado de serviço público...
O guache é de Manuel Cargaleiro, "sem título", de 1968.
12 comentários:
São raras as pessoas, mas ainda há quem goste do que faz, e tenta fazer o melhor...
Beijos Luís M.
Felizmente que ainda vamos encontrando gente desta...e às vezes em locais de trabalho nada agradáveis!
Abraço
subscrevo-te, luís. bem haja a tais pessoas por quem ainda vale a pena acreditar na humanidade. boa noite e um grande beijinho.
Olá Luis
Sabes que (modéstia à parte), me revi nas tuas palavras. Tenho um emprego que gosto e gostaria ainda de fazer mais, mas dedico-me de alma e coração a tudo o que se cruza no meu caminho a nível profissional, embora por vezes sejamos uns incompreendidos.
Fica bem
Ana Paula
..."reparou em quase tudo:...mas sobretudo, na maneira como ela agarrava os livros, aliás abraçava..." - Reparar nas pessoas é um dom.
É uma sorte encontrarmos pessoas de bem com a vida, mais sorte ainda é encontrarmos quem tem disposição em ajudar os outros.
Beijinho
Que bom haver pessoas assim.
Acho que cada vez são mais raras...
Bom fim-de-semana.
Beijitos
são uma espécie de oásis, M. Maria Maio, que mesmo assim, nos fazem acreditar na espécie humana...
e ficamos espantados, Rosa...
é isso mesmo, Alice...
eu sei Ana Paula...
felizmente há sempre alguém que adora os livros, a trabalhar nas nossas bibliotecas...
é bom lutarmos contra a indiferença, olharmos os outros nos olhos e nos gestos, Cris...
pois são, mas ainda há algumas, que de vez em quanto nos valem, Anoris...
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