quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Os Carnavais do Jornalismo


Os caminhos pela qual o nosso jornalismo tenta conduzir o país, estão longe de ser os mais recomendáveis.
Não gosto deste governo socrático, muito menos votei nele. Mas acho de uma estupidez gritante todas estas nuvens que se levantam à volta da figura do primeiro-ministro, com comentadores, jornalistas, todos cheios de moral (tal como na história do diploma...), em relação a factos menores do começo de carreira de um jovem que era uma espécie de engenheiro e assinou uma série de projectos de mau gosto, tão em voga na época.
Preferia ver estes jornalistas a investigarem os 300 documentos assinados pelo ministro do turismo, na noite mais longa que passou no ministério; a descobrir porque razão Portas gastou tanto papel em fotocópias quando abandonou a pasta da defesa; a conseguirem saber o que está por detrás da afirmação do director nacional da policia judiciária; a entrevistarem o engenheiro Ferreira do Amaral, administrador da lusoponte, sobre a assinatura do acordo de exclusividade; ou melhor ainda, a fazerem-nos o verdadeiro retrato do estado caótico da saúde, principalmente no interior, com as distâncias "mortais" que os doentes têm de fazer, da sua localidade até à unidade hospitalar mais próxima, etc.
Vou deixar de comprar jornais, que de "sério", só têm o nome. Prefiro comprar os desportivos, que pelo menos têm a vantagem de me distrair...

A ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro, publicada nos "Pontos nos ii", a 14 de Março de 1889, apesar de ter passado mais de um século, explica a lógica de algum jornalismo que se faz entre nós e se acha de referência... (aumentar para ler a legenda)

20 comentários:

Maria P. disse...

Os valores andam muito por baixo, numa sociedade já "doente", no caso do jornalismo de
investigação, o jornalismo de fundo, espera-se sempre que traga notícias credíveis e com rigor, mas afinal surge com estas "pérolas"...

Abraço*

Anónimo disse...

um beijinho, luís.

Rosa dos Ventos disse...

Subscrevo totalmente!

Flor de Tília disse...

As imagens do teu blog são documentos históricos.Excelente!

Abraço

*
xi
*

Ana Cristina Leonardo disse...

não vejo porque razão os exemplos que cita são incompatíveis.

em relação a factos menores do começo de carreira de um jovem que era uma espécie de engenheiro e assinou uma série de projectos de mau gosto, tão em voga na época.

o tão em voga na época, deixa-me perplexa. porque sempre houve gente a bater-se contra aqueles crimes lesa cultura e território. os mesmos que se batem hoje contra a especulação imobiliária, contra os negócios de terrenos, que de agrícolas passam a urbanos enquanto o diabo esfrega um olho... aliás, entre aqueles crimes e as investigações que propõe é o mesmo país parolo, de chicos-espertos e de todas impunidades que se perpetua.

Cristina Caetano disse...

Concordo contigo. Outra coisa é o "escarafunchar" da vida privada do político, sou daquelas que acredita que isso pouco me interessa, me interessa o que eles fazem com o seu, o meu, o nosso dinheirinho, o tal conhecido "dinheiro público" que sai de nossos bolsos através dos impostos.

Abraços

Anónimo disse...

Jornalismo sensacionalista e sensaborão não se coaduna com o trabalho de pesquisa e o interesse em vender mais a qualquer preço.

Certo, Luís?

Abraço

Luis Eme disse...

Concordo contigo, Maria P., escolhem-se sempre atalhos, agarram-se "pérolas" pelo caminho e foge-se às grandes questões, como se queimassem...

Luis Eme disse...

Outro para ti, Alice.

Luis Eme disse...

Estranhamos, mas estas misturas entre o acessório e o importante, vão-se entranhando, Rosa, infelizmente...

Luis Eme disse...

Graças ao talento de gente como o Rafael Bordalo Pinheiro, sempre actual, apesar da distância temporal, Maria Luar.

Luis Eme disse...

Ana,

a verdadeira questão para mim, é a exploração que se faz de algo que ocorreu há vinte anos, e que é lesivo para a imagem de Sócrates e não do Estado.

Embora estejam completamente erradas, foram moradias deste estilo que invadiram o país nos anos oitenta e noventa, quando eram raros os Municipios que tinham aprovado o PDM.

Segundo a minha modesta opinião, se querem atingir a imagem de Sócrates, porque razão não investigam a sua actividade de ministro, por exemplo, do ambiente, comparando o que ele defendia ontem e o que o seu governo defende hoje?

Agora irem buscar coisas "pequeninas" de há mais de vinte anos, sinceramente!

É a minha opinião.

As outras questões que referi, colocam em causa o funcionamento das instituições do Estado (realmente podia ter colocado uma mais à esquerda, mas só me ocorreram essas...), e não o que as pessoas em causa, faziam há dez ou mais anos...

Luis Eme disse...

Também acho, Cris.

Importante é sabermos a forma como o Estado têm sido lesado pela incompetência e por outras habilidades, de alguns senhores que falam como se fossem exemplares.

Luis Eme disse...

É isso mesmo, Observador, mais os interesses obscuros que nos escapam, desta e de outras notícias.

Embora não queira remexer na porcaria, não foi por acaso, que no processo "Casa Pia", os nomes das "bichas" e "pedófilos" de direita, ficaram escondidos no meio da montanha de processos...

Teresa David disse...

Tenho de afirmar que estou 100% de acordo com o teu post. Este "furar" ao mais recondito da vida de qualquer pessoa, mesmo sendo primeiro ministro, mete-me nojo pois demonstra que a pequeneza da conversa de pátio sobre os vizinhos se alarga á política dentro daquilo que considero a maior menoridade nacional. Julguem os políticos pelo que fazem ou não fazem sem esburacar coisas que nada têm a ver com o exercício actual das suas funções.
Parabéns, eu própria não conseguiria dizer o mesmo com tal clareza!
Bjs
TD

MGomes disse...

Nem mais!Só mais um exemplo do que se passa neste dormente país, bem ilustrado neste excelente post: onde esteve os ecos provocados pela corajosa entrevista de Marinho Pinto na RTP1! Será que ninguém reparou no que foi denunciado pelo Bastonário da Ordem dos Advogados? Pois..., já me equecia, houve um que esteve atento, foi José Miguel Júdice..., para dizer que o actual Bastonário tem pretensões políticas a curto prazo!!!! Pois claro!!! Quem tem alguma coragem neste país na denúncia do pântano em que estamos atolados, não pode ter liberdade interventiva!!!Há que caluniar, antes que alguém leve a sério as palavras do Bastonário da Ordem dos Advogados.

Um Abraço

Ana M. disse...

Todos sabemos que os políticos não são a honestidade personificada.
Mas não sei porque teria um jornal que deixar de publicar uma coisa como a questão dos projectos assinados por quem mais convinha.
Não foi um acto ilegal mas ajuda a conhecer a personalidade e os expedientes de que se serviu a pessoa que nos governa.
Não se trata de pormenores da vida íntima ou familiar de alguém, trata-se de actos públicos que só tinham que ser assumidos com uma certa humildade e não com a arrogância do costume, pelo visado.

Todos os outros atropelos que referes, é bom que sejam investigados, julgados, se for o caso e tornados públicos depois disso.
Quanto a "Justiça" é que estamos pior.
Já sabes o que penso: É grau zero, ou muito perto disso.

Abraço

Luis Eme disse...

E o mais giro, deve ser a forma como o jornalista conseguiu o "furo", Teresa...

Algum "amigo" anónimo da Beira, resolveu vingar-se, se calhar só porque sim e deu a dica...

Luis Eme disse...

Á boa maneira portuguesa, ataca-se o acessório e esquece-se o que é realmente importante, M. Gomes...

Luis Eme disse...

O que choca, Sininho, é o espaço temporal da notícia. Tal como a descontextualização, já que o nosso país de 1980 era muito diferente do dos nossos dias.

Continuo a pensar que estes casos só "vitimizam" o nosso primeiro, por isso é que se devia pegar em acções governativas concretas (ele é político há quase vinte anos, se contarmos com o tempo de deputado, secretário de estado e ministro...).