Estamos sempre a descobrir coisas novas...
Ontem, aconteceu mais uma tertúlia, em Almada. Além de todo o saber transmitido pelo professor Manuel Lima, sobre a história de Corroios, desde os tempos em que toda aquela área era composta por quintas de frades, pertencentes a várias irmandades de Lisboa, que semeavam e colhiam os produtos para a sua subsistência, nas suas ordens e conventos da Capital, houve algo mais que ficou...
Quase a leste do tema da tertúlia, a descoberta de um simples nome, Brites, pouco feminino, que nem sequer imaginava que existisse (embora fosse o nome verdadeiro da Padeira de Aljubarrota), fez com que me intrometesse na conversa de algumas mulheres da geração da minha mãe, que me contaram a história triste desta senhora, que infelizmente teve muito pouco de "padeira de aljubarrota"...
O marido era mau como as cobras (foi a expressão usada, claro que as cobras não têm nada a ver com isto...) e batia-lhe praticamente todos os dias, deixando-a toda negra e ela, pequenina, aceitava tudo aquilo como se fizesse parte do seu quotidiano.
Disse-lhes o que senti, o quanto devia ser triste ser propriedade de um homem, e fazer parte de uma sociedade que assistia impávida e serena a estes casos de violência, como se fosse algo natural.
Elas acenaram que sim, que era muito triste...
Felizmente as coisas mudaram, a mulher dos nossos dias já não é propriedade de ninguém, seja ele pai, marido ou irmão, tem os mesmos direitos e deveres do homem.
Claro que há muita "besta" por aí à solta, que ainda não assimilou isso. É a única explicação que encontro, para o número de casos de violência doméstica que ainda acontecem no nosso país, alguns com consequências mortais...
Escolhi a ilustração da Padeira de Aljubarrota, porque há muita gente por aí, a precisar de levar com umas pazadas de uma mulher com a energia e a força da Senhora Dona Brites de Almeida...
10 comentários:
E assim, com toda a tranquilidade, vamos aprendendo algo que nos passava ao lado.
Fico grato ao Luís e ao professor Manuel Lima por esta experiência virtual mas exemplar.
Tertúlia!
Luis,
se possivel e se for aberta ao público, gostaria de saber quando for a próxima, ;)
Concordo contigo em cada palavra, Luís, mas infelizmente ainda hoje sabe-se de mulheres que sofrem de violência e que mesmo assim, depois de se separarem desses maridos, os perdoam e voltam a viver com eles. Claro, que são mulheres com baixa auto-estima, infelizmente.
bjo
Obrigado pelas tuas palavras Repórter.
O professor Manuel Lima além de um pedagogo brilhante, é ainda um grande investigador, tendo colaborado durante vários anos com o Município do Seixal.
A tertúlia é aberta ao público, mas agora só em Outubro...
Será um prazer contar com a tua visita, Moonlover. As tertúlias realizam-se no café "Dragão Vermelho", na Praça da Renovação, em Almada.
Infelizmente isso ainda acontece, Cris...
Gosto de tertúlias! Fui a uma via blogosfera e foi mto agradável, pelas pessoas, pelos blogs.
Luis, essa imaginação está em alta, hum? :)
Tem dias Vague... vou agora ver se a Maré já trouxe um fim à tua história...
Sei lá, Luís. Sabes, conheço gente que tem um discurso muito semelhante ao teu e, no entanto, era bem capaz de se omitir diante dessas situações, ou até de saber que o pai, por exemplo, fazia o mesmo com a mãe e tratá-lo como se fosse alguém merecedor de respeito.
Entre o discurso e a ação há uma distância infinita, gerida por muitos acordos não escritos e por muita conveniência. Tem um poema, em uma peça do Chico e do Ruy Guerra, "Calabar", com a seguinte frase: Se trago as mãos distantes do meu peito, é que há distância entre intenção e gesto.... Mas, obrigada por falares nisso. Beijo.
Eu sei Ida...
Ida, apeteceu-me falar disso, por ter acontecido na tertúlia e porque tudo começou com a singularidade de um nome muito pouco feminino, a história veio depois, muito por a senhora em causa ter tão pouco da Padeira da nossa história.
Mas em relação ao que falaste, por exemplo focando as nossas próprias famílias (no meu caso pessoal penso que o meu pai nunca levantou a mão à minha mãe...), também nos temos de situar no tempo. É bom não esquecer que em alguns lugares e em algumas famílias, dar uns açoites na mulher, era uma "prova de masculinidade". E quem não batesse na mulher era um frouxo.
É por isso que, chocante, é existirem pessoas da nossa geração que continuam a fazer valer as suas "razões" e "autoridade" desta forma.
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