
Tinha pensado não trazer o referendo da despenalização do aborto para o "Casario".
No entanto é muito difícil ficar calado, com todas as "bombas" que têm sido lançadas por aí, inclusive por pessoas aparentemente acima de qualquer suspeita.
O papel da igreja neste últimos tempos nem sequer me merece qualquer comentário. Como o Carnaval está próximo, as frases do padre que deixará de fazer funerais a quem votar "sim", entre outras, do mesmo teor, ditas, inclusive, pelo Cardeal Patriarca, só poderão ser encaradas como brincadeiras de mau gosto.
Agora a carta que foi colocada nas mochilas das crianças dos infantários do Centro Paroquial de Nossa Senhora da Anunciação de Setúbal, é grave demais para ser silenciada. Não sei onde está a decência e o respeito pela individualidade de cada um daqueles pais, sem falar nas crianças, que desde muito cedo, aprendem a questionar, quando se distribuem cartas onde um pretenso feto confronta a mãe com a sua própria morte, com frases como esta: «Mãe, Como foste capaz de me matar?...»
Claro que não é só a despenalização que está em causa neste referendo. Vai-se também referendar o direito das mulheres serem assistidas com os cuidados médicos adequados no Serviço Nacional de Saúde.
É por isso que estranho que os defensores da vida "ignorem" que esta lei permite, que as mulheres possam ser assistidas nos hospitais até às dez semanas, nas condições que devem ter direito, sem correrem riscos de vida ou sem voltar a ter filhos (como acontece tantas vezes...).
Talvez prefiram continuar a alimentar a rede de "parteiras" clandestinas (com e sem diploma), que auferem honorários quase de futebolístas e trabalham em lugares sem as condições mínimas de assistência...
O cartaz que ilustra o texto é bem elucidativo: «Ainda está a tempo de salvar muitas vidas.» É importante que, quando se fala em vida, além das discussões quase científicas sobre o óvulo e o feto, se deixem as hipocrisias para trás e se pense na saúde das mães deste país.
É por isso que eu voto SIM.