Mas quando vou, encontro sempre motivos para escrever, mesmo que não sejam os mais felizes...
Ontem perdi-me pelas ruas de Alfama, onde acabei por almoçar numa tasca, com dois amigos, felizmente distante das festas do Tratado de Lisboa e do almoço "real", oferecido pelo senhor Silva no Museu dos Coches.
Claro que não trocava o cozido à portuguesa nem a companhia alegre destes dois companheiros pelos petiscos oferecidos por sua excelência...
Quando regressava a casa, olhei com atenção para os rostos com quem me cruzava, nas ruas e nos transportes e não consegui descobrir um sorriso nem sequer palavras soltas.
Deduzi que os "felizes da vida" andavam de viatura própria e não espalhavam a sua felicidade com a ralé, que tem de viver com salários a rondar os quinhentos euros e sente um calafrio no pescoço, quando ouve falar de desemprego.
Já no cacilheiro, a única excepção às pessoas de ar triste e silencioso, era um casal, aparentemente turco, com dois filhos. Esta família chamava a atenção graças ao seu dialecto imperceptível, bastante ruidoso, que contrastava com o silêncio da malta que regressava aos "desertos do sul"...
16 comentários:
Genericamente, o povo português está cada vez mais triste.
A introspecção tomou conta de nós.
E não vejo a tal luz ao fundo do túnel que nos permita alguma esperança...
Ontem estive em Lisboa, utilizei o metro e pela 1ªvez na minha vida fui "fiscalizada".
Um jovem casal,com a aparência de estrangeiros, foi detectado sem bilhetes e saiu na estação seguinte acompanhado pela funcionária.
À minha frente uma jovem mãe negra com a filhota ao colo comentou, depois de me ouvir dizer aos companheiros de viagem que nunca tal me tinha acontecido.
-É porque a senhora viaja pouco na linha verde, não sei porquê mas é a linha mais fiscalizada.
E sorriu...
Percebi quando olhei à minha volta e fiquei envergonhada!
É "um nada" que invade tudo ...
como em " Never ending story ", uma história interminável ...
Mas nessa famosa obra o cavalo que entristeceu no pântano afogou-se, só o optimismo o salvaria, mas ... a nostalgia foi mais forte e ele morreu.
A Floresta Uivante... A Torre de Marfim... Os Pântanos da Tristeza... O portão do Espelho Mágico... O Mar das Possibilidades...
uma extraordinária fantasia. uma bela metáfora ...
http://www.youtube.com/watch?v=5czNM1OTYno&feature=related
Um beijo Luís ( rumo ao " mar das possibilidades ... " )
"o fado saiu à rua" (j. régio). o fado somos nós... beijinho, luís.
desertos à solta na cidade...ou a cidade que disfarça o deserto.
dias assim. assim os dias.
beijo. Luis.
Luís,
infelizmente o povo português tem motivos para acanhar o sorriso, fazendo jus ao semblante melancólico que carregamos no nosso "Bilhete de Identidade" - o fado, a saudade, a desdita e afins, tão nossos, mas tão tristes...
Ainda assim, nesta quadra, tivessem os portugueses menos cobiça e soubessem dar valor a outras posses que não as materiais, com certeza que esboçariam um sorriso. Pelo menos, ao ver reunida a família e aqueles de quem gostam. Haverá tesouro maior?
Hoje o dia "soube-me" assim...
Abraço.
A nosso país é feito destes contrastes de vida. Uma boa análise.
O chocante é o contrabalanço entre as pessoas que vi em Lisboa e as que encontrei no Almada Fórum, em pleno horário de trabalho, dentro e fora das lojas, numa azáfama consumista de bradar aos céus...
Fui lá em trabalho, mas não volto antes do dia 25, Repórter...
Também não encontro fiscais há muitos anos, no metro, Rosa...
Tu és um poço de cultura, Isabel...
Pois somos, Alice...
Se disfarça Isabel...
Dizes muito bem, Dulce, mas a família nestes tempos continua a ser desvalorizada,em nome de carreiras e de sei lá que mais...
Ser jovem nunca foi tão dificil, e constituir família nem se fala, já para não falar dos falsos incentivos à natalidade...
O tempo também não deve ter ajudado, Maria P...
Podes crer, Rui...
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