quarta-feira, outubro 25, 2006

Cais de Cacilhas


«[...] Enquanto esperava, calmamente, pelo cacilheiro, ficou com a sensação que aquele largo que, fora nos anos oitenta o maior centro de circulação de pessoas e transportes da Europa, estava cada vez mais calmo. Tudo graças ao comboio da ponte...
Uns metros mais à frente descobriu uma cara conhecida, Pedro Sempre, outro herói das suas crónicas mundanas.
Pedro era um velho contador de histórias que passava parte dos seus dias fundeado num banco de madeira, assistindo ao cair da tarde rente ao seu Tejo.
Quem quisesse ouvir qualquer aventura do mundo só precisava de se sentar e escutar com atenção, a sua voz pausada, o melhor bilhete para uma mão cheia de viagens, extraordinárias, pelo Ocidente e Oriente. [...]
À medida que falava, o velho fazia festas ao Banzé, o seu companheiro de sempre, um cão escanzelado que lhe aquecia os pés e a alma, escondendo com o seu pelo deslavado, os buracos dos sapatos gastos, com ar de quem já dera mais que uma volta ao mundo [...]»
Algumas palavras do conto "Sonhos Cor de Água", do livro "Um Café com Sabor Diferente", da autoria de Luís Alves Milheiro, ilustradas com uma aguarela do livro "Carta de Lisboa", de Eric Sarner e Miguelanxo Prado.

2 comentários:

Alice C. disse...

Fiquei curiosa com o livro. Parece-me apropriado para as minhas viagens diárias de cacilheiro. Onde é que o posso encontrar?

Luis Eme disse...

Ofereço-te um exemplar, com todo o gosto.