domingo, agosto 13, 2006

A Margem Sul do Tejo em 1906


De vez enquanto descubro autênticas "pérolas" de papel, que me fazem recuar no tempo e entender como tudo era diferente na nossa Margem Sul...
A "Ilustração Portuguesa" de 1906 fez alguns comentários curiosos sobre a Outra Banda, que merecem, no mínimo, a nossa reflexão.
«Não são das menos desagradáveis coisas da grande enseada marítima de Lisboa, essas montanhas pardas da Outra Banda, sem árvores nem casas, e de cujas vertentes a cada passo esbarrondam terras contra o Mar. De há muito, noutro país, essa margem sinistra estaria embelecida e arborizada, cortando-se nas gredas soltas, tratos de terra plana onde correr cais e fazer instalações, cintando de muralhas o resto e escalonando até ao cimo as terras altas para as encher de zig-zagues de estradas, entresachadas de residências de campo ou grandes fábricas. A cordilheira nua, com meia dúzia de casebres branquejando no amarelo ruim das gredas soltas, tem uma aparência de África maldita, que ignobiliza o panorama, ancarioca a cidade, dando aos instintos paisagistas do luso uma ideia das mais frígidas para o conceito de europeu civilizado, que ele se dá ares de merecer.»
Este retrato critico, sem assinatura, fala da pobreza paisagista da nossa Margem Sul em 1906. Cem anos depois, infelizmente, as coisas continuam pouco atractivas, como todos sabemos.
O desenho que ilustra este "post" também tem uma centena de anos e mostra o sonho da construção de uma ponte sobre o Tejo (que ainda esperou mais sessenta anos...) entre Lisboa e Cacilhas. Esta ponte tinha dois tabuleiros, um para comboios (superior) e outro para peões (inferior). Não deixa de ser curioso, o "esquecimento" do automóvel nesta travessia. Em 1906 os veiculos de quatro rodas ainda deviam circular em fase experimental...

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu não tenho uma ideia muito bem formada, de quem é a culpa do abandono de toda a envolvência do Ginjal. Pelo que tenho lido, tanto a Autarquia como os proprietários dividem as culpas.
Um dia destes ia de cacilheiro e dei por mim a pensar que um desenvolvimento da Outra Banda não devia interessar muito a Lisboa.
Isto é capaz de explicar porque é que em cem anos, as coisas não mudaram quase nada.

Minda disse...

Concordo inteiramente com a posição da Alice. E não é necessário acrescentar mais palavras.

Luis Eme disse...

É uma boa explicação, pelo menos em termos turisticos. Não foi por acaso que o Ginjal só se desenvolveu como polo industrial.
Em relação às responsabilidades, não existem culpados. Tanto a Autarquia como os donos, sacodem a água do capote. É o mais prático, mesmo quando não chove...