Não sei se Joaquim Benite foi um jornalista que se transformou em encenador, ou se foi um homem de teatro que andou escondido, demasiado tempo, no lado quase invisível das notícias que escreveu para os jornais e revistas onde trabalhou.
Mas isso não é o mais importante, pelo menos se pensarmos que Almada conhece muito melhor o homem do teatro - cujo contributo artístico, como encenador e director da Companhia de Teatro de Almada, tem sido fundamental para o desenvolvimento da Arte de Talma na nossa cidade -, que o homem dos jornais.
Esta aventura começou há quase trinta anos, quando o Grupo de Teatro de Campolide se mudou do bairro lisboeta para a Margem Sul. Não sei se estarei a exagerar, mas é bem provável que neste largo período de tempo tenham sido encenadas e produzidas mais de uma centena de peças de teatro pelo grupo que algum tempo depois acabou por ser baptizado como Companhia de Teatro de Almada, numa prova evidente de agradecimento, à Cidade e ao Município, pela forma como têm sido recebidos.
Não foi um percurso só com “Dias Felizes”. Houve um pouco de tudo, como é costume acontecer em todos os lugares onde existem seres humanos: alguns desaparecimentos importantes como os de António Assunção e Virgílio Martinho; algumas saídas de actores influentes, que queriam experimentar outras dramatúrgias; etc.
A Companhia não só resistiu, como se fortaleceu, tornando-se cada vez mais consistente.É por isso que Joaquim Benite merece todo o respeito, admiração e aplauso dos almadenses pelo excelente trabalho que tem desenvolvido em benefício do teatro da nossa terra, quer como director e encenador da Companhia de Teatro de Almada, quer como principal responsável pelo Festival de Teatro de Almada, que anima a cidade durante a primeira quinzena de Julho, há mais de vinte anos.
Festival que se assume, cada vez mais, como o principal acontecimento teatral do nosso país. Isso deve-se à qualidade das companhias internacionais que nos visitam, mas também à planificação que se faz ano após ano. Não é por acaso que esta Festa do Teatro consegue oferecer sempre qualquer coisa de novo aos espectadores que visitam, deliciados, os vários palcos espalhados pela cidade. [...]
[..] Apesar destas palavras elogiosas, devo acrescentar que conheço o Joaquim Benite quase apenas de vista. Trocámos algumas palavras pouco mais de meia dúzia de vezes e também já o entrevistei. Sempre me pareceu uma pessoa acessível, no entanto dizem que tem mau feitio. É normal que isso aconteça. No nosso país quem faz um trabalho rigoroso, que ultrapasse a mediania, sem se alimentar do facilitismo e desenrascanço, tão portugueses, dificilmente escapa ao epíteto de “mau de qualquer fita”.
Este artigo foi publicado, integralmente, no "Jornal de Almada", numa das rubricas que assinei, nas suas páginas ("Almada no Centro do Mundo"), que era uma espécie de perfil, a 22 de Julho de 2005. Tentei encurtá-lo um pouco mais, mas não deu, deixava de fazer sentido. A fotografia é de Anabela Luís.
Este artigo foi publicado, integralmente, no "Jornal de Almada", numa das rubricas que assinei, nas suas páginas ("Almada no Centro do Mundo"), que era uma espécie de perfil, a 22 de Julho de 2005. Tentei encurtá-lo um pouco mais, mas não deu, deixava de fazer sentido. A fotografia é de Anabela Luís.
10 comentários:
E que excelente artigo(podia ser todo), sobre um trabalho que sem dúvida vai deixar marca, o Festival de Teatro de Almada.
Beijos, Luís M.
Concordo com o que dizes, Luís.
Joaquim Benite já era Teatro no Grupo de Campolide, nos tempos em que era tão difícil fazer teatro...
Beijinho
e sobre alguém que é o "motor" do festival de teatro de Almada, M. Maria Maio...
e foi construindo uma das grandes companhias de teatro portuguesas, que teve a sorte de vir até Almada, Maria...
Desculpa lá, Luís, mas não consigo resistir a deixar este recado: convido-vos a passar pelo meu blogue
vitorinices.blogspot.com
e pelo Almada Cultural (por extenso)
almada-cultural2.blogspot.com
onde também escrevo algumas coisas (ou coisitas) sobre o Festival de Almada e as suas origens.
António Vitorino
Conheço-o recentemente, da encenação da ópera "La Clemenza di Tito" de Mozart, para o São Carlos; e da homenagem a Saramago no TNDM. Mas muito me apraz saber que neste país ainda há quem preserve e fomente as artes cénicas!
Eu cá, (também) gosto do Benite e pronto!
Abraço
espero que tenham passado por lá, Vitorino...
há mais casos, felizmente, Dulce.
Além do Joaquim, o João Mota, o Luís Miguel Cintra e o João Lourenço, são outros grandes exemplos de amor e arte nos palcos...
é um Senhor, Samuel.
Enviar um comentário