quarta-feira, agosto 22, 2007

Ainda a Selva Urbana


Depois de ter escrito sobre as diferenças que existem na sociedade de hoje, no seio dos jovens, fiquei logo com a sensação que o texto poderia ser confundido com a acção de luta contra os transgénicos de Silves.
Quando escrevi, estava a pensar nas traços de tinta sem qualquer sentido estético que invadem as ruas da maior parte das nossas localidades, e que nem sequer poupam edifícios históricos e artísticos; estava a lembrar-me da destruição de coisas tão simples como caixotes do lixo, que têm como função, tornar as ruas mais limpas, ou ainda do roubo de sinais de trânsito, que depois até são vendidos como objectos decorativos.
Continuo a ter dificuldade em perceber, e aceitar, esta postura tão evidente de desprezo pelas coisas públicas, que deviam ser consideradas de todos e preservadas por todos.
Claro que se tratam de práticas de civismo, de cidadania, da qual a nossa sociedade continua tão ausente. Não podemos exigir que parte das gerações de hoje tenham comportamentos pacíficos e de respeito, quando sabemos que cresceram em "guettos", sem fronteiras e sem distinções, entre aquilo que sempre nos dividiu, o bem e o mal...
Não posso nem devo confundir uma invasão politica concertada, a uma propriedade privada, com os actos de selvajaria urbana sem rosto, apesar de considerar ambos os actos infelizes.
Tinha pensado colocar junto a este texto um busto artístico do Parque das Caldas da Rainha, que alguém resolveu pintar, num acto de selvajaria e de mau gosto. Mas como não consegui encontrar a fotografia, deixo-vos uma foto dos silos abandonados das Caldas da Rainha, que em tempos guardaram cereais como o milho, quando ainda não se falava de transgénicos...

8 comentários:

Maria disse...

Subscrevo cada palavra tua, Luís....

Debaixo do Bulcão disse...

Olá, Luís!
Ah, era isso?! (Se calhar li um bocado à pressa o artigo anterior, confesso)
Bem, em relação a esse assunto dos grafitis... por acaso até penso que há muitos com piada - mais artísticos uns, mais interventivos outros...
Só lamento que alguns artistas do grafiti escolham mal os locais para os fazerem. Por exemplo, paredes de edifícios novos, ou murais artísiticos que já existem (o da paragem de autocarros do Pragal, por exemplo, é um caso lamentável).
Mas também sei que a questão não é assim tão simples.
Fazer um grafiti pode ser arte, sim senhor, mas é sobretudo um desafio às regras instituídas.
O que (se não me engano) significa também que, quanto mais difícil melhor. Ou seja: a coisa também não se resolve dando aos artistas do grafiti espaços para eles pintarem. Isso é fácil demais!
Alternativas?
Por exemplo, alguns muros junto à linha do MST (ou a estação da Fomega) que ficaram em betão, sem acabamentos. Os artistas do grafiti ainda não começaram a ir lá em força, talvez por lhes parecer ainda uma oferta demasiado evidente (mas já há uma excepção, na Cova da Piedade: um "hall of fame"). Mas deixem ficar a coisa como está, que eles acabam por lá ir. E eu até acho que podem fazer coisas bonitas.
(Não estou a ironizar. Há grafitis muito bons, por exemplo, na Rua Cidade de Ostrava - Pragal, zona do "triângulo da Ramalha").
Ah, pois, há ainda os "tags" (assinaturas). Mas isso já não é arte... E parvoíces dessas já os jovens da minha geração faziam!
Cumprimentos!

Vitorino

Maria P. disse...

Quando comentei foram esses os factores que tive em conta, o milho é outra ceifa...

Beijinho.

Ponto Verde disse...

Subscrevo na íntegra , grande confusão entre participação civica e puro vandalismo.

Luis Eme disse...

Eu sei, Maria, não somos muito diferentes...

Luis Eme disse...

Tal como não estava a falar de "transgénicos", também não estou a falar de "grafittis", Vitorino.

Falo das pinturas rascas que apenas servem para sujar, destruir e vandalizar.

Os jovens da nossa geração não faziam nada que se compare ao que se faz hoje...

Luis Eme disse...

Dizes muito bem Maria P., o milho é mesmo outra ceifa...

O que irrita é estes defensores do ambiente não invadirem, por exemplo, as pecuárias, que poluem tantos rios e o nosso mar, pintando-as de Vermelho choque!

Luis Eme disse...

Há mesmo uma grande confusão entre a participação civica e o puro vandalismo, "Ponto Verde".

E é uma pena, porque podiamos ser um país muito melhor.