Augusto Flor falou do "Mercado da Reforma Agrária", que se realizava nos armazéns que ficavam em frente da Lisnave, mesmo ao lado do actual Quartel dos Bombeiros de Cacilhas, que tinham feito parte da indústria corticeira. E também de um sistema de trocas de peixe por produtos agrícolas, que se realizava neste mesmo mercado, entre operários, pescadores e camponeses...
Antes Augusto falara da boa experiência que foram os cursos de alfabetização, que começaram a funcionar na Sociedade de Reparação de Navios, onde ele era operário. No início eram ministrados para os seus trabalhadores e familiares analfabetos (pelos operários mais instruídos), mas rapidamente despertou também o interesse dos moradores do Ginjal. Interesse que se expandiu de tal forma por Almada, que foram criados vários polos, espalhados pelo Concelho, permitindo a centenas de pessoas aprender a ler, a escrever, para depois obterem aproveitamento no exame da quarta classe.
Quem tem memória, sabe dos quase "milagres", realizados pelas Comissões de Moradores e de Trabalhadores, com o apoio da Comissão Administrativa do Município de Almada, que num curto espaço de tempo nesse "Verão Quente" inesquecível, fizeram o que não se tinha feito em décadas...
Felizmente isso também aconteceu com a alfabetização, com gente a querer aprender e a crescer, em liberdade. Liberdade que lhes estava a dar o que o outro tempo lhes tinha roubado.
É por estes exemplos que se percebe que os 25% oficiais da taxa de analfabetismo estava errada. Porque não se somavam todos aqueles que mal deixaram a escola nunca mais leram um livro ou até um simples jornal. Liam apenas aquilo que lhes aparecia à frente, nas ruas ou no trabalho, em placas, cartazes, etc. (e muitas vezes de uma forma "destorcida"...).
(Fotografia de Luís Eme - Almada)
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