segunda-feira, maio 04, 2015

O Abandono do Ginjal é uma Constante...


Ao passar pelo Ginjal vi que o seu histórico "Corredor" estava transformado em lixeira.

Entrei e vi que a casa onde a Júlia morou quase toda vida tinha a porta escancarada.

Não resisti e entrei, para tirar fotografias das janelas que olham para o Tejo.

Antes da Júlia ali morar, foi espaço da "Pensão Bom Gosto", que foi inspiração de um dos meus poemas do caderno, "Ginjal 1940, poemas dois", que vos ofereço:

pensão bom gosto

A mulher que apareceu no postigo
Disse que aquilo não era bem uma pensão
eu sabia mas fiz-me desentendido,
saciava-se mais o corpo que o coração.

«A clientela é quase toda de Lisboa»,
sorriu-me ela de uma forma enigmática.
Paguei o quarto e subi sem geografias,
abraçado à minha companhia simpática.

Depois de abrir a porta e a deixar entrar
Dei alguns passos em frente, até à janela.
Não tinha pressa nem ninguém à espera,
abri a janela e fiquei a ver as barcas à vela

Preferi imaginar-me um cliente casual
e pedir à minha companheira de viagem
para não fechar completamente o cortinado,
porque não queria deixar fugir a paisagem.

(Luís Milheiro)

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