Talvez o cinema seja a arte que mais se aproxima da nossa vida, de todas as que pudemos desfrutar. Em comparação com a literatura, tem a a vantagem de nos oferecer as suas histórias em movimento e com personagens de carne e osso.
No sábado à noite, por um mero acaso, descobri que estava a ser exibido na RTP Memória, o "Dom Roberto", que tem como protagonistas, Raul Solnado e Glicinia Quartin.
Acabei por ficar preso ao ecran e vi o filme até ao fim. Embora não se tratasse de uma grande realização, tinha alma, os dois protagonistas conseguiam exprimir toda aquela vida de pobreza, de quem não tinha emprego e era forçado a viver numa casa abandonada, quase destruída.
Apesar de toda aquela miséria, há por ali muita esperança e sonho, não fizesse Solnado o papel de um manuseador de "robertos" das ruas lisboetas. Esperança que também era alimentada pela solidariedade da vizinhança (Ainda hoje é assim, é mais fácil um pobre dar o pouco que tem, que os que têm quase tudo. Estes são bons é a praticar a caridadezinha, de preferência com uma câmara de imagens por perto...).
É um filme que tem o perfume do neo-realismo italiano, possuindo um conteúdo muito político, pelo menos para a época, em plena ditadura salazarista.
Estive a ler mais alguns pormenores do filme e fiquei a saber que foi estreado no ano em que nasci (1962) e que no ano seguinte foi seleccionado para o "Festival de Cannes", onde recebeu uma menção especial do júri do Melhor Filme para a Juventude. O seu realizador, Ernesto de Sousa, não só foi impedido de se deslocar a França pela PIDE, como acabou por ser perseguido e preso pela polícia política.
Sem comentários:
Enviar um comentário