A única coisa que sei, é que era Liberdade
Olho para trás, sem virar o pescoço.
Bebo o café com mais prazer
porque sinto que estou acompanhado,
por quase uma dúzia de amigos
que já não há.
Não sei se era poesia.
Talvez não. Era um misto de sensações,
onde cabia uma anedota e um pedaço de história,
um sorriso com e sem espanto.
Olho para trás, continuo sem mexer o pescoço.
Finjo desconhecer
se incomodávamos, ou não, os outros
plantadas nas mesas em redor.
Provavelmente sim.
Uns com inveja de não ter uma "tertúlia"
outros incapazes de ler o jornal sem silêncio.
Não digo que fosse melhor ou pior
era sim um tempo diferente,
as pessoas gostavam mais de conversar
de ler jornais e de conhecer os livros por dentro.
Olho para trás, sem conseguir mexer o pescoço.
Sem fazer contas com os dedos
sei que nesses anos noventa
havia menos dedos e mais tertulianos.
Hoje sobram tantos dedos...
Não resisto a dizer
que éramos mais livres.
Falávamos de tudo e mais alguma coisa.
O café era igual ao país,
muito, muito mais democrático.
Continuo sem saber se era poesia
o que se colava à nossa mesa.
A única coisa que sei, é que era Liberdade.
Luís [Alves] Milheiro
(não sei se é poema, sei apenas que é a minha homenagem aos meus amigos tertulianos, que me receberam de braços abertos no "Repuxo" e foram fundamentais para conhecer e gostar da Almada da história e das culturas...)
1 comentário:
Lembrar o passado dá vontade de o repetir, ninguém nos impede de sermos livres de o fazer.
Abraço
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