sexta-feira, junho 07, 2024

Quando a sociedade civil fez a Revolução no interior dos quartéis, na "Tertúlia de Abril"


António Matos era o mais novo dos convidados (o moderador não contava...), pelo que tinha uma história pessoal para nos contar, sem grandes vivências revolucionárias. Falou da honra de estar ali com tão boa companhia e num lugar tão importante na história de Almada e dos Almadenses.

Mesmo assim andou atrás no tempo e falou do jovem adolescente que chegara da província com os país,  onde a religião tinha (e continua a ter...) um peso maior que nos grandes centros urbanos. Foi por isso que as suas primeiras acções, foram mais sociais que políticas, e tiveram o dedo do Padre Sobral. António acabou por seguir os passos dos católicos progressistas, ajudando no que era possível, como aconteceu com a luta contra o analfabetismo, um problema social sério, que era cada vez mais difícil de esconder...

Mais curioso foi o seu testemunho, dos tempos em que cumpriu o serviço militar, em Mafra, no curso de oficiais milicianos (depois de vários adiamentos até cumprir a licenciatura em engenharia), já depois da Revolução de Abril. Teve como camaradas de armas muitos dos jovens que tinham fugido da guerra e se tinham exilado em vários países da Europa. Alguns já com mais de trinta anos. A maior parte deles estava ali para legalizar a sua situação e não para cumprir as normas castrenses, pelo que se recusavam a fazer a rotina diária de um recruta, para desespero dos instrutores. Como a alimentação também não era famosa, tornaram-se famosos os seus "levantamentos de rancho" (recusa colectiva de alimentação no refeitório militar). A solução que o Exército encontrou foi dividi-los e "despromovê-los" para o curso de cabos. Como os problemas se mantiveram, acabaram por passar todos a disponibilidade como "praças rasas"...

Pois é. Os militares tinham feito a revolução fora dos quartéis e não estavam à espera que a "sociedade civil" fizesse a sua revolução no interior dos quartéis...

Mais um bom apontamento histórico.

(Fotografia de Alfredo Cunha)


2 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Não tinha conhecimento e gostei de saber.
Abraço e saúde

Graça Pires disse...

Li com todo o interesse. É sempre importante guardar essas recordações.
Um bom feriado.
Uma boa semana.
Um abraço.