«Não sei se ainda andas por aqui, como o Chico nos costuma contar (sim ele diz que não vamos logo embora, ficamos por cá uns tempos a ver como param as modas...), Romeu.
Se andas, talvez estejas um pouco espantado por teres ganho tantos amigos novos, especialmente agora que te aproximas dos cem anos (hoje ainda são só noventa e nove...), essa idade sempre memorável.
Mas ainda bem que é assim, é sinal que não te vão esquecer, pelo menos nos tempos mais próximos. E tem ainda outra vantagem, todos aqueles que nunca souberam da tua existência, talvez sintam alguma curiosidade em conhecer-te melhor e peguem num dos teus livros, que tanto pode ser um romance, uma peça de teatro ou uma colectânea de contos (os ensaios e biografias não recomendo tanto, porque não têm a tua magia de extraordinário contador de histórias), e vão de viagem contigo.
Claro que há quem não tenha esquecido a tua "vaidade", e até me fale do tempo em que usaste laço em vez de gravata e andavas nas ruas de Almada de nariz empinado. Outros continuam a insistir na tese de que não devias ter aceitado dar o teu nome a uma rua, por estarmos em plena ditadura. Não te preocupes, eu "desarmo-os" sempre com a mesma "arma" que gostam de usar: a tua "vaidade". Se eras vaidoso como te pintavam, por que carga de água não ias aceitar a atribuição de uma rua? Ainda por cima quando normalmente este privilégio só era concedido depois de se partir...
Claro que tenho de ter cuidado com os argumentos que uso, não posso falar da tua simplicidade, e até insegurança, a espaços, que notava nas nossas conversas, ainda dizem que estou a inventar um "Romeu novo"...
E antes que me esqueça, parabéns Romeu.
Mas festa festa, vai ser a do ano que vem. Por isso vê lá se ficas por cá, pelo menos mais um ano. Até por saber que te vais emocionar e divertir bastante, nesta caminhada festiva.»
(Fotografia de Fernando Lemos)
1 comentário:
Quem diz hoje que Romeu Correia foi vaidoso, não o disse com certeza ao próprio com frontalidade. Ainda vou mais longe: quem diz que Romeu Correia é vaidoso por ter permitido uma homenagem toponímica em Almada, note-se em Almada, no final da ditadura, deve desconhecer que o mesmo homem se recusou a receber no auge do Estado Novo um prémio literário de prestígio pelo SNI (Secretariado Nacional de Informação). Eu digo antes que foi corajoso como poucos.
João Vasco Branco
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